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Adolescência na Tela e na Vida Real – Responsabilidades Familiares e Escolares em Tempos Digitais


Adolescência na Tela e na Vida Real – Responsabilidades Familiares e Escolares em Tempos Digitais
Reprodução/Netflix

A minissérie da Netflix Adolescência gerou impacto por sua abordagem crua e realista sobre a vida de um adolescente envolvido em um crime. No entanto, além do suspense e do enredo envolvente, a produção lança luz sobre temas urgentes: a desestruturação da educação familiar, o papel da escola e a influência da era digital sobre jovens cada vez mais expostos a discursos de ódio e ideologias extremistas.

A trama acompanha Jamie, um adolescente comum, mas emocionalmente isolado, que se vê preso em um turbilhão de eventos que culminam em um crime violento. Filmada em plano-sequência, a série captura a sensação de aprisionamento do protagonista e reflete a complexidade das vivências da juventude atual.

Por trás da ficção, questões reais emergem: por que os pais estão falhando na educação dos filhos? Qual o papel da escola diante dessa lacuna? Como o isolamento emocional e a radicalização digital estão moldando uma nova geração?

Educação familiar em crise: a desconexão entre pais e filhos

A relação entre pais e filhos na contemporaneidade tem sido cada vez mais mediada por telas e marcada pela falta de comunicação efetiva. Segundo a psicóloga infantil e especialista em desenvolvimento juvenil, Dra. Carolina Ferraz, “muitos pais terceirizam a criação dos filhos para a internet, para a escola ou até para influenciadores digitais, sem perceberem o impacto disso na formação da identidade e da autoestima dos jovens.”

A série Adolescência expõe essa desconexão de forma brutal: pais ausentes ou emocionalmente distantes, jovens isolados em seus próprios mundos digitais e a ausência de figuras de apoio que possam orientar esses adolescentes.

Um estudo do Instituto Brasileiro de Psicologia e Família (IBPF) aponta que 78% dos adolescentes entrevistados afirmam que gostariam de ter mais diálogo com seus pais, mas sentem que não são compreendidos. Esse afastamento gera frustrações que podem levar a comportamentos autodestrutivos, crises de ansiedade e até a busca por pertencimento em grupos extremistas.

A escola como ambiente falho ou oportunidade de transformação?

Adolescência na Tela e na Vida Real – Responsabilidades Familiares e Escolares em Tempos Digitais

Outro ponto que a série escancara é o papel da escola. Instituições de ensino deveriam ser espaços de acolhimento e aprendizado, mas muitas falham em perceber os sinais de sofrimento dos alunos. Bullying, isolamento e problemas psicológicos muitas vezes passam despercebidos ou são tratados como indisciplina.

O educador e sociólogo Dr. Luiz Castro enfatiza que “as escolas precisam se atualizar e entender que a realidade dos alunos mudou. A internet e as redes sociais ampliaram tanto as oportunidades de aprendizado quanto os perigos psicológicos. Professores precisam ser capacitados para lidar com essas novas demandas.”

Segundo dados do Ministério da Educação, 64% das escolas brasileiras não possuem políticas estruturadas para lidar com saúde mental dos alunos. Isso significa que, mesmo quando um estudante demonstra sinais de depressão ou radicalização, a instituição raramente possui um protocolo eficaz para intervir.

O fenômeno INCEL: jovens à margem e a radicalização online

A trama de Adolescência também dialoga com uma questão contemporânea extremamente preocupante: a influência de ideologias extremistas na internet, como o movimento INCEL (involuntary celibate - celibatário involuntário).

Os Incels são homens jovens que se identificam como vítimas da sociedade e culpam mulheres e outros grupos por sua falta de sucesso romântico e social. Muitos desses indivíduos encontram refúgio em fóruns online, onde discursos misóginos e até violentos são disseminados.

O psicólogo clínico Dr. Ricardo Almeida, especialista em comportamento juvenil, explica:

"O jovem que se sente excluído e emocionalmente frustrado tende a procurar comunidades onde se sinta acolhido. O problema é que, em muitos casos, ele encontra espaços que reforçam sua dor e transformam essa frustração em ódio. Isso acontece nos fóruns INCEL, em grupos extremistas e até em redes sociais convencionais.”

Casos de violência motivados por essa ideologia já foram registrados no mundo todo. A ausência de um ambiente com responsabilidades familiares, estruturado, combinada com um sistema educacional falho e um universo digital sem regulamentação eficiente, cria o cenário ideal para que jovens vulneráveis sejam cooptados por esses discursos.

Responsabilidades familiares e escolares, o que pode ser feito?

Diante desse cenário alarmante, especialistas defendem algumas medidas essenciais para mitigar os impactos da desconexão familiar e da influência digital tóxica sobre os jovens:

  1. Educação emocional desde a infância – Pais precisam ensinar seus filhos a lidarem com frustrações, emoções e desafios sem recorrer ao isolamento ou ao ódio.

  2. Diálogo aberto em casa e na escola – Conversas francas sobre redes sociais, pertencimento e autoestima podem evitar que jovens busquem respostas em comunidades radicais.

  3. Intervenção escolar eficaz – As escolas precisam criar programas de apoio psicológico e monitoramento digital para identificar alunos em risco.

  4. Regulação de conteúdos online – Plataformas devem ser responsabilizadas pela propagação de discursos de ódio e ideologias extremistas.

  5. Participação ativa dos pais na vida digital dos filhos – Saber quais conteúdos os filhos consomem, com quem interagem e que tipo de influência estão recebendo é fundamental.

A série Adolescência não traz respostas fáceis, mas acerta ao levantar um espelho para a realidade que muitos preferem ignorar. A formação de uma geração emocionalmente saudável e socialmente equilibrada depende de um esforço coletivo, que começa na família, passa pela escola e se estende à sociedade como um todo.

A adolescência nunca foi fácil. Mas na era digital, os desafios são ainda mais complexos – e as soluções, mais urgentes do que nunca.

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