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As rappers brasileiras no BET Awards 2025 e a força revolucionária do rap feminino

  • Foto do escritor: Renata Freitas
    Renata Freitas
  • 12 de jun.
  • 5 min de leitura

Ajuliacosta com seu prêmio no BET Awards
Ajuliacosta com seu prêmio no BET Awards (reprodução/instagram @ajuliacosta)

A última edição do BET Awards aconteceu na segunda, 9 de junho de 2025, no Peacock Theater, em Los Angeles, e o Brasil marcou presença importante com grandes artistas de referência no rap feminino. O BET Awards é uma cerimônia de premiação norte-americana criada em 2001 pela Black Entertainment Television (BET) para a celebração de artistas afro-americanos e outros grupos sociais, dividido em diversas categorias, incluindo música, atuação, esporte e outras áreas do entretenimento. O principal objetivo do BET Awards é reconhecer e homenagear as conquistas de afro-americanos, outros povos em diáspora e outras expressões culturais marginalizadas que muitas vezes não recebem o devido reconhecimento em outras grandes premiações. O evento serve como uma plataforma para a cultura negra, permitindo livre expressão e identificação entre seus pares, que se veem representados e reforçando suas comunidades através da cultura. É também conhecido por suas performances musicais dinâmicas e colaborações únicas, que frequentemente se tornam momentos icônicos na cultura pop. A premiação tem um impacto considerável na indústria do entretenimento, influenciando tendências e dando visibilidade a novos talentos.

Ajuliacosta com seu prêmio no BET Awards (reprodução/instagram @ajuliacosta)


Na 25° edição do evento, o Brasil foi muito bem representado na figura de mulheres importantes para a cultura afro-brasileira contemporânea, em música, estética, moda e ideias. Any Gabrielly, nascida em 2002, em São Paulo (SP), cantora, compositora, dançarina, modelo, atriz e ex-integrante do grupo global Now United. Primeira brasileira indicada ao VMA da MTV em 2020, sendo reconhecida pela dublagem da personagem Moana no Brasil e por atuar em musicais como O Rei Leão. Sua arte transita entre o pop e a dança, concorrendo na categoria Best International Act com carreira voltada ao pop/R&B internacional.

Mc Luanna agradecendo apoio de fãs por sua indicação ao prêmio (reprodução/instagram @mcluanna_)

Luana Santos Oliveira, MC Luanna, bailarina que se tornou rapper se voltando para o trap e o funk. Nascida em Ubaitaba (BA), iniciou no trap após uma apresentação no festival Cena, em 2019. Lançou o primeiro EP “44” em 2022 e singles de destaque como “Meio Pá” com o rapper Veigh, somando mais de 50 milhões de streams, concorrendo à categoria Best International Act por sua relevância.


Na categoria Best New International Act, tivemos as indicadas Ajuliacosta e Amabbi, sendo Júlia Costa, a vencedora do prêmio, marcando uma vitória inédita para o Brasil nessa categoria. De Mogi das Cruzes (SP) e com apenas 24 anos, é rapper, compositora e empresária na moda, com sua marca própria: AJC. O interesse pela música teve início aos 12 anos, quando começa a frequentar batalhas de rima. Lançando seu primeiro EPs em 2022, estreia nos palcos de festivais como o Cena, com o álbum “Brutas Amam, Choram e Sentem Raiva” de 2023. Integrando moda e música, debutou na Semana de Moda de Paris em setembro de 2024, com sua marca de moda autoral periférica, participando não apenas como designer, mas apresentando-se musicalmente no evento "Karnaval (With Love)" e desfilando a marca entre nomes da moda global. A marca já teve parcerias com grandes players como Kenner, Levi's, Boticário e Melissa, destacando-se na cena fashion e comercial.

Apareceu em capas da Elle Brasil, consolidando a presença da AJC Shop no mainstream da moda nacional.

Duquesa no tapete vermelho do BET Awards (reprodução/instagram @duquesa)

Além das indicadas ao BET Awards, as rappers Duquesa e Ebony. grandes referências no rap feminino, também compareceram ao evento. Duquesa, de Feira de Santana (BA), Iniciou a carreira no R&B aos 15 anos, participando do grupo Sincronia Primordial, em 2015. Lançou o primeiro EP de rap “Sinto Muito” em 2022, e os álbuns “Taurus”, e “Taurus Vol. 2” nos anos seguintes. Faz parte do selo Boogie Naipe, produtora comandada por Mano Brown, e é figura reconhecida na cena, inclusive no mainstream, como bem mostra a capa da ELLE Brasil ao lado de Ebony e Ajuliacosta. A fluminense de Queimados, Ebony, rapper nerd que começou a carreira lançando singles autorais no SoundClound em 2019. Seu álbum “Terapia”, de 2023, foi eleito um dos 50 melhores álbuns nacionais pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).


Para quem acompanha a cena hip hop em todas as suas vertentes, não é com surpresa que se recebe essa notícia da exaltação das rappers em premiações internacionais. O que agora está sendo exposto para o grande público já é um fato conhecido nesses movimentos culturais. Embora seja um espaço de dominância masculina, as mulheres tomaram a cena em grande estilo. E, sim, estamos falando sobre moda como uma das mais importantes ferramentas de expressão na construção das narrativas e nas manifestações de suas identidades, bem como a moda deve ser em seus deveres políticos. Para o Hip Hop, a moda sempre ocupou esse lugar de resistência. Mas, ao que parece, as novas vozes femininas construíram espaços desenvolvendo autonomia também na produção da moda, diretamente, criando seus próprios looks e estéticas.

Ebony desfilando na São Paulo Fashion Week (reprodução/instagram @baddiebony)

A moda também é importante instrumento na retomada das narrativas sobre seus corpos. Tema de muitas críticas nas rimas é a hostilidade direcionada ao feminino em suas simbologias e seus corpos. A hipersexualização de corpos femininos é naturalizada e incentivada em certas vertentes de alguns artistas. Como uma manifestação cultural inserida em um sistema patriarcal, dificilmente seria diferente. À medida que nos desenvolvemos coletivamente nas discussões de gênero, sexualidade, raça e classe, assim também se desenvolvem as expressões culturais, e para o hip hop, quem comanda esse desenvolvimento são as vozes femininas. Apenas assumindo o papel de protagonistas das próprias narrativas, saindo do lugar de subserviência aos sistemas patriarcais e de seus corpos, que não servem mais aos interesses de controle masculino sobre o feminino e a natureza.

Clipe de "Set AJC 2" de Ajuliacosta - reprodução Youtube/canal @ajuliacosta

Sempre é bom lembrar que a mera distinção entre rap masculino e rap feminino já deixa explícito as desigualdades de acesso quando, frequentemente, se divide em melhores rappers masculinos e melhores rappers femininas. Esse discurso implica subalternização de mulheres como segunda categoria na produção dessa arte. A velha história de ser criada a partir da costela masculina lhe devendo alguma satisfação. O que essas mulheres fazem é reafirmar sua autonomia criativa, artística e intelectual a partir de suas rimas de combate direto, muitas vezes. Até que seu direito de ser apreciada apenas pelo trabalho bem feito, a arte entregue em sua genialidade, seja respeitado, para além das performances de gênero esperadas. A sensualidade e sexualidade aqui exercidas conscientemente, em favor de suas realizações, afirmando seus desejos e insatisfações, no fortalecimento de sua autoestima. Nada de trabalhar para o patriarcado facilitando seus abusos, entregando inconscientemente seus corpos aos ideais de liberdade feminina criados pelo próprio sistema para manter o controle. Como bem sintetizado no verso de "Set AJC 2", de Ajuliacosta com participação de Mc Luanna, Duquesa e LAI$ROSA: "Não é porque você tem medo que vou deixar de existir."


Renata Freitas


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