Naamah Acharayim: Bruxa, Anárquica, Diabólica e Dona de Editora
- Syrinx Sycorax Hekatina
- 10 de set.
- 4 min de leitura
Atualizado: 11 de set.
Em um universo literário historicamente dominado por vozes masculinas, a escrita de uma bruxa emerge como ato de rebeldia e resistência. Por séculos, o conhecimento das curandeiras, parteiras e sábias foi perseguido, silenciado e queimado nas fogueiras da intolerância. Escrever e publicar livros, portanto, não é um mero exercício criativo; é um feitiço de descolonização das narrativas. Através da palavra escrita, as bruxas reivindicam sua própria história, resgatam saberes ancestrais da oralidade e os eternizam em tinta e papel, transformando cada página em um talismã contra o esquecimento.
E quando a bruxa é também a dona da editora!? É o caso da bruxa anárquica, livre e diabólica Naamah Acharayim, uma praticante das artes ocultas há mais de 20 anos, expressando-se de diversas formas como a escrita, o desenho, a escultura, a dança e as artes tecelãs, fazendo disso tudo uma extensão da prática da magia que vai além do convencional.
Por isso, hoje vamos entrevistar essa mulher transgressora, fundadora da Editora Manus Gloriae (2021) e autora dos livros Bruxaria Diabólica, Cultos da Morte e Via Onírica. Naamah Acharayim se dedica a publicar e propagar obras esotéricas, especialmente de cunho sinistro e obscuro.

RP - Qual motivo de decidir abrir uma editora de livros em um país onde 53% da população se declara não-leitor?
NA - Minha maior motivação foi preencher uma lacuna no meio literário esotérico, produzindo livros mais focados na bruxaria tradicional e caminho da mão esquerda. Existem muitas editoras excelentes no meio esotérico, mas que acabam oferecendo sempre mais do mesmo. É um público extremamente nichado, mas fiel, já que é bastante difícil encontrar materiais desse tipo em editoras maiores. Explicando brevemente o que é caminho da mão esquerda: é um caminho dentro da magia que abrange algumas vertentes e é voltado ao lado mais sinistro e obscuro - embora não seja propriamente maligno como alguns pensam à primeira vista. É um caminho de encontro com as próprias sombras, um caminho que, tal qual uma árvore que finca suas raízes nas profundezas do solo, também busca se nutrir da escuridão fértil, para assim elevar-se rumo à iluminação.
RP - Segundo o Sebrae, em março do ano de 2025, 34,1% dos empreendedores são do gênero feminino. Acredita-se que esses dados são reflexo de mulheres possuírem muitas vezes duas jornadas e menores rendimentos financeiros. Diante disso, quais são seus principais desafios hoje e como você faz para enfrentá-los?
NA - Eu comecei a empreender justamente pelas dificuldades para a mulher com filhos perante o mercado de trabalho, acredito que como eu, muitas adentraram nesse caminho mais por necessidade e pelas circunstâncias. Os desafios sempre se apresentaram das mais diversas formas, da falta de credibilidade inicial até questões logísticas que dificultam participar de eventos. Hoje sinto que estou mais firmada como editora e escritora, mas os desafios sempre se fazem presentes no dia a dia: o equilíbrio financeiro perante os recursos escassos de uma editora independente, encontrar boas parcerias de trabalho, a instabilidade econômica de nosso país, o cansaço do dia a dia de ser uma faz-tudo... acho que uma alquimia que dosa coragem, resiliência e muito amor pelo que se faz é a forma que encontro para enfrentar e driblar todos esses desafios.
RP - Atualmente autoras têm ganhado destaque no mercado editorial. Você recebe muita obras de mulheres ocultista?
NA - Neste nicho chamado caminho da mão esquerda as mulheres são uma minoria, portanto, há poucas mulheres escritoras e mesmo leitoras, a maior parte dos leitores são do sexo masculino. Porém uma das minhas missões é mudar esse cenário, pois temos várias mulheres maravilhosas que só precisavam de uma brecha para manifestar suas artes e dons da escrita. Tivemos duas edições da revista Aquelarre (atualmente esgotadas), um trabalhos 100% feito por mulheres, contendo textos, artes, entrevistas e importantes reflexões acerca do feminino dentro dos tortuosos caminhos da magia e da bruxaria. Aos poucos muitas mulheres, principalmente as jovens, tem descoberto que o caminho da magia é muito mais amplo e poderoso além daquilo que era oferecido até então, e não tenho dúvidas que em breve novos talentos devem aparecer por aí! Já temos excelentes obras publicadas por mulheres e espero que esse número aumente cada vez mais.
RP - Quais os últimos lançamentos e os projetos para essa reta final de 2025?
NA - Eu sou uma pessoa com certas superstições e não costumo falar muito do que virá, mantenho segredo até que os trabalhos estejam maduros e prontos para despontar! Mas posso dizer que teremos lançamentos de Bruxaria Tradicional, Oráculos, Vampirismo e talvez algo de Vodu... muitas coisas bem interessantes para quem é estudioso de temas profundos, espinhosos e polêmicos! Este ano tivemos lançamentos mês a mês com livros que foram super bem recebidos e elogiados, com temas variando entre encantaria e paganismo brasileiro, mundo dos sonhos, magia hekatina, bruxaria tradicional, mitos antigos, etc. Também pretendo retomar alguns brindes super especiais, como a ecobag da editora, que no ano passado era praticamente disputada a tapas! Há um espaço físico sendo preparado com muito esmero, não é loja, mas um local que pode ser usado para tardes de autógrafos, e quem sabe alguns workshops bem especiais, afinal a editora está crescendo e a perspectiva para o futuro são muito positivas.

Publicar é lançar um feitiço em larga escala: é semear ideias, fortalecer redes de apoio e, finalmente, provar que a magia não apenas sobrevive, mas floresce, resiste e se reinventa constantemente. E Naamah Acharaym vem fazendo isso com maestria!







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