Você quer liberdade, mas não se sente livre
- Aretha Hercovitch Carrão

- 4 de ago.
- 3 min de leitura

Nesta coluna, o convite é simples: pense — mas pense com profundidade. E, principalmente, pense por si. Hoje, nos dedicamos a um tema essencial à experiência espiritual autêntica: liberdade. Não a liberdade como ideia abstrata, nem como slogan ideológico. Mas a liberdade como um estado de consciência que só se realiza na honestidade brutal de um mergulho em si.
“Querer liberdade é também querer o outro livre.”– Simone de Beauvoir
A primeira coisa que você precisa compreender é que espiritualidade não é religião. Religião pode ser dogma, rito, culpa, medo e moralismo. Espiritualidade é expansão de consciência. É liberdade. E não há espiritualidade genuína sem liberdade — sem autorresponsabilidade, sem livre arbítrio, sem o direito de ser quem se é, sem o dever de colher o que se planta.
Na lógica espiritual, Deus não pune nem premia. Ele acolhe. Na lógica espiritual, o inferno não está no além. Ele é construído — ou dissolvido — em nós. Na lógica espiritual, a salvação não está em um confessionário, nem numa cartilha de boas condutas, mas na coragem de viver com verdade.
Você é livre? Ou vive presa em certezas que nem sequer são suas?
O ego, travestido de fé, adora certezas. Adora regras. Adora julgar. E acredita piamente que está certo. O problema é que não existe espiritualidade no julgamento. Tampouco há liberdade onde há a necessidade de convencer o outro de que ele está errado. A liberdade do ego é uma farsa que diz: “sou livre para fazer o que quiser, desde que o outro viva de acordo com o que eu acredito”. Isso é aprisionamento. Isso é arrogância. Isso é medo. E o medo é a raiz da escravidão interior.
A pergunta que você precisa se fazer é: o quanto da sua “fé” é, na verdade, medo disfarçado de convicção? Você acha que está certa. Mas quem te disse o que é certo? De onde vieram suas certezas? Por que você acredita nelas?
A espiritualidade é o oposto do convencimento. Ela é escuta. É silêncio. É permissão. É entender que cada alma caminha no próprio tempo. Que ninguém acorda porque outro gritou. O despertar é uma experiência solitária. E sagrada.
Você acredita em Deus? Ótimo. Mas onde ele habita?
Se sua resposta for: “na igreja”, você ainda está na superfície. Na espiritualidade, Deus mora no âmago. No seu centro. Não está fora, está dentro. Não está no altar, está na consciência.
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, disse Jesus. Mas essa verdade não está num livro sagrado decorado, nem num padre, nem num pastor. Está em você. Dentro. No silêncio. E essa verdade só aparece quando você se despe do ego e admite que não sabe. Que precisa se escutar mais. Que precisa viver mais. Que precisa menos de culpa e mais de presença.
A falsa liberdade é barulhenta. É cheia de regras. A verdadeira liberdade é silenciosa. E profunda.
Liberdade espiritual é isso: viver de forma tão inteira e responsável que não se ocupa da vida alheia.
Você quer salvar alguém? Então aprenda a se salvar primeiro. Quer ensinar algo? Aprenda a calar. Quer mudar o mundo? Mude sua frequência.
É na entrega interior que você retorna para a casa do Pai. E não é um lugar distante, nem pós-morte. É aqui. Agora. Em vida. No cotidiano. Na forma como você olha, escuta, responde, sente. Deus está no ato de respirar com verdade. De amar com compaixão. De escolher com consciência.
Ah, a liberdade! O que te aprisiona hoje?
Quem está dirigindo a sua vida: você ou as crenças que te foram impostas?
Se você ainda acredita que agradar a Deus significa negar a si, talvez precise repensar a própria fé. Deus não é um vigia. É um campo de amor. Ele não julga o que você veste, o que você pensa ou com quem você dorme. Ele quer saber o que você sente. O que você emana. Se você honra sua própria essência.
E se você ainda vive para apontar o erro do outro, talvez seja hora de voltar para o início da caminhada espiritual. Porque o verdadeiro caminho é aquele em que cada um cuida de si — não por egoísmo, mas por lucidez.
Espiritualidade é libertar-se da prisão das certezas.
É se despir das amarras mentais. É aceitar que a liberdade do outro é sagrada. É compreender que Deus não quer rebanho. Quer consciência.
E, minha querida, se ao final dessa leitura, algo em você se moveu… talvez seja a alma sinalizando que está pronta para ser livre. De verdade.
Até a próxima reflexão...







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