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Paulo José Carneiro Pires

Clara Nunes: A Tal Guerreira

Vanessa da Mata interpretando clara Nunes
Créditos: Divulgação

"Clara Nunes – A Tal Guerreira", sob a batuta de Vanessa da Mata e a direção apaixonada de Jorge Farjalla, é um evento que busca mais do que simplesmente homenagear a trajetória de uma das maiores vozes do Brasil: quer evocar toda a aura de força e brasilidade que Clara Nunes representou e continua a representar para a cultura nacional. A estreia, ocorrida no Teatro Bravos, no Complexo Aché Cultural, é um mergulho em um universo de cores, sons, danças e espiritualidade que refletem a multiplicidade da intérprete homenageada.

O espetáculo tenta capturar a alma de Clara, sua busca incessante pela essência do samba, sua devoção aos orixás e sua missão de representar a rica tapeçaria cultural do Brasil. Jorge Farjalla, com sua direção, ousa ao entrelaçar o sagrado e o mundano, o passado e o presente, criando uma narrativa que é, ao mesmo tempo, uma celebração e um questionamento da jornada de Clara. A concepção cênica de Marco Lima, aliada ao desenho de luz de César Pivetti e ao figurino de Luiz Claudio Silva, contribui para essa construção de um espaço que é metade terreiro, metade palco, ressoando com a energia e a mística da cantora.

Vanessa da Mata, entrega-se ao papel de Clara com reverência e coragem. Seu canto traz uma nova leitura para clássicos da guerreira mineira, e sua interpretação reforça a força e a vulnerabilidade que coexistiam na figura de Clara. No entanto, é Badu Morais, substituta em algumas sessões, quem realmente surpreende, trazendo uma intensidade e uma verdade que ressoam profundamente no público.

O elenco de apoio também se destaca. Carol Costa, como Bibi Ferreira, é um achado, e André Torquato, no papel de Aurino, traz uma leveza que equilibra o peso da narrativa. A direção musical de Fernanda Maia merece aplausos por conseguir traduzir o repertório vasto e variado de Clara em uma performance coerente e emocionalmente poderosa.

Porém, nem tudo são flores no espetáculo. Em alguns momentos, a direção parece se perder em simbolismos excessivos que, embora tentem capturar o misticismo de Clara, acabam por diluir a força narrativa. O uso constante de elementos alegóricos e cenários elaborados, apesar de visualmente belos, por vezes desvia a atenção da mensagem principal, criando uma experiência um tanto fragmentada.

Apesar desses pequenos tropeços, "Clara Nunes – A Tal Guerreira" se firma como um espetáculo digno de aplausos. É uma celebração que não se furta de homenagear com autenticidade e respeito, mas também de questionar e revisitar o legado de uma artista que foi, e sempre será, um símbolo de resistência e de brasilidade. Um convite irresistível a quem deseja revisitar a alma de Clara e descobrir que, mais do que nunca, sua voz ainda ecoa.

SERVIÇO

CLARA NUNES – A TAL GUERREIRA

Temporada: até 29 de setembro de 2024

Horários: sextas às 21h, sábados às 17h e 21h, domingos às 16h e 20h

Classificação: 12 anos

Duração: 120 min.

Local: Teatro Bravos

Endereço: Rua Coropé, 88 – Pinheiros


Ingressos: 

PLATEIA PREMIUM: R$ 150,00 meia entrada e R$ 300,00 inteira

PLATEIA INFERIOR: R$ 125,00 meia entrada e R$ 250,00 inteira

MEZANINO: R$ 75,00 meia entrada e R$ 150,00 inteira       



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