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Marcelo Teixeira

Colocando-me no lugar das mulheres

Atualizado: 28 de mar.




Colocando-me no lugar das mulheres

 

 

            Muita gente diz que sou contestador e que meus escritos provam muito isso. Creio que esse povo tem razão. Contesto mesmo! Principalmente quando os ditos padrões vigentes são arcaicos e preconceituosos. Por que aceitarmos tudo pelo simples fato de que sempre foi assim? Nunca engoli essa história!

 

            Por desde cedo ter alma de escritor, sabia que as palavras impressas seriam a minha grande voz. Como agora, em que narro algumas das vezes em que, ainda jovem, me pus no lugar das mulheres.

 

            Uma dessas ocasiões aconteceu quando encontrei um colega numa galeria comercial aqui de Petrópolis (RJ). Ele estava acompanhado por outro rapaz que eu conhecia de vista. Começamos nós dois a conversar algo então importante quando passaram duas meninas da mesma faixa etária. O sujeito que estava com o meu colega imediatamente começou a mexer com elas fazendo aquele som característico quando pomos os lábios em posição de assobio, mas puxamos o ar para dentro. Como a galeria estava vazia, o som saiu alto. Fiquei super sem graça. Afinal, estava perto do sujeito que demonstrou desejo de forma deselegante. Conclui que, decerto, as moças pensaram que ele as assediava em nome dos três. Afinal, homem é tudo igual!

 

            Da outra vez foi quando, na festa de formatura do segundo grau, uma colega de classe veio conversar comigo. Disse que eu era especial, acima da média. Fiquei surpreso, confesso. A meu ver, sou apenas um tipo comum. Mas ela me via como alguém com quem era possível conversar algumas coisas e obter um retorno sensato. Contou, então, que apanhava do namorado, filho de uma amiga de minha mãe. Finda a festa e o ano letivo, não sei como a história terminou, mas sei que ela terminou o namoro com ele. Nunca mais a vi e raramente o vejo, mas tenho notícias de que ele continua agressivo com as mulheres com quem se relaciona. Lamentável!

 

            Foram muitas as situações em que testemunhei papos para lá de desrespeitosos em relação ao sexo feminino, principalmente em saunas e vestiários. Vários homens casados contando que traíam as esposas com as secretárias. Referiam-se às primeiras como otárias e às segundas, como vagabundas. Havia também os jovens solteiros que, tais quais os pais e tios, diziam que haviam arranjado uma vadia para passar a noite com eles. Triste educação machista!  

 

            Houve, ainda, um episódio ocorrido com uma colega de trabalho chamada Rose, que era muito bonita. Assim como eu, Rose tinha família em Petrópolis. Por isso, vinha do Rio nas noites de sexta-feira para passar o final de semana com os pais e irmãos. Certa feita, ao descer do ônibus intermunicipal e começar a caminhar em direção à casa da família, Rose foi abordada por um indivíduo que, a bordo de um automóvel, começou a passar-lhe uma cantada vulgar. Sem dar confiança, Rose apertou o passo, resoluta. Como havia chovido, o sujeito esperou Rose passar perto de uma poça d’água para acelerar o carro e lhe dar um banho ao passar a toda pela água parada. Patética figura masculina que não me representa!

 

            Creio, no entanto, que a vez em que mais me pus no lugar das mulheres foi quando, numa estação do metrô carioca, entrei sem querer no vagão destinado ao sexo feminino. Sim, no metrô do Rio de Janeiro há um vagão no qual as mulheres podem viajar tranquilas, sem o risco de serem importunadas, bolinadas etc. O metrô tomou essa decisão depois de recorrentes queixas e reinvindicações.

 

            Quando notei que só havia mulheres à minha volta e que estava no vagão rosa, pedi desculpas, constrangido. Elas, então, disseram que não havia problema. Mas se um segurança visse, pediria para eu sair. Segui viagem em paz sem ser advertido por nenhuma delas. Mas se fosse uma mulher sozinha num vagão só de homens, garanto que um ou mais iria, no mínimo, dizer alguma piadinha. Eles acham que ser homem é isso. Pobres coitados!

 

            Houve também vezes em que mulheres da minha família foram importunadas e chegaram em casa, contando. E garanto que as mulheres que me leem têm todas, sem exceção, histórias semelhantes para relatar.

 

            Por isso, no mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, dedico a elas a gentileza, a educação e a empatia para com a alma feminina. Elas vêm do coração de um homem que contesta o senso comum.

 

Marcelo Teixeira

 

 

 

 

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