Os tais caquinhos - parte 2: famílias
- Marcelo Teixeira
- 26 de mai.
- 2 min de leitura
Dando prosseguimento à análise da música “Pra começar”, de Marina Lima e Antônio Cícero, segue minha apreciação acerca das famílias, um dos alicerces do velho mundo que, segundo a letra da canção, se partirá em mil caquinhos.
Há pouco mais de 30 anos (início da última década do século passado), presenciei uma cena chata durante uma palestra pública do centro espírita kardecista do qual faço parte. Um dos expositores (um médico na casa dos 40 anos) disse que, quando não existe a figura paterna, não há família. Em suma, se a mãe cria sozinha os filhos (seja ela viúva, separada ou solteira) é um aglomerado qualquer, nunca uma família.
Ao mesmo tempo em que ele dizia isso, a porta (que fica na parte da frente do salão) era aberta e uma moça adentrava o recinto. Ela não gostou nada do que o médico (casado, conservador e heteronormativo) havia dito. Não só ela; muita gente não gostou e tivemos um bom trabalho para, ao longo dos dias subsequentes, desdizer a declaração infeliz que ele deu. Afinal, no início da década de 90, os ventos das mudanças já sopravam de forma considerável.
Anos depois, tais ventos lufaram de forma ainda mais intensa para corroborar que a infeliz afirmativa do doutor caíra definitivamente por terra. Estão aí os dados de instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que não me deixam mentir. A cara da família brasileira mudou.
Embora ainda haja (e sempre haverá) casais heterossexuais em união estável, hoje temos cada vez mais mulheres que criam os filhos sem a ajuda de homens e também o contrário: homens que cuidam das crianças sem contar com a figura da esposa/mãe. E há também gente que nunca quis casar e adotou crianças; casais homossexuais casados, felizes e recorrendo à adoção ou a barrigas de aluguel; meninos e meninas criadas por avós ou tios, entre outras diversas formações familiares.
Antigamente, quem fugisse ao padrão tradicional – esposa, marido e filhos – era discriminado. E a lei não colaborava, pois nem divórcio havia, apenas o desquite. Promulgada em 1978, a lei do divórcio possibilitou que pessoas separadas casassem novamente no civil e até no religioso. Antes, na época do desquite, pessoas separadas apenas viviam juntas, e se a mulher engravidasse, a criança levava somente o sobrenome da mãe; nunca o do pai. Voltando um pouco mais no tempo, a mulher desquitada era vista quase como uma prostituta. Mãe solteira, então, nem se fala! Aliás, como dizia o Papa Francisco, aposentemos a expressão “mãe solteira”, pois mãe não é estado civil.
Se antes o sistema e a sociedade não davam a pessoas separadas ou a homossexuais o direito de se casarem e formarem uma família, hoje tudo mudou. Muda-se a dinâmica social, muda-se o mundo e, a despeito de um ou outro extremista histérico vociferar que as famílias estão sendo destruídas, elas seguem, sempre fortes e mostrando que podem se renovar e fazer felizes pessoas que, antes, não tinham o ensejo de formar uma família, seja ela do jeito que for.
Marcelo Teixeira
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