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Os tais caquinhos - parte 1: pátrias

  • Foto do escritor: Marcelo Teixeira
    Marcelo Teixeira
  • 19 de mai.
  • 3 min de leitura
Os tais caquinhos - parte 1: pátrias

Temos visto, e isso já vem desde um longo tempo, nações guerreando por territórios, poder político etc. Algo lamentável, pois resulta na morte de inocentes, ou seja, mulheres, crianças, idosos, homens e toda sorte de civis indefesos que estiverem pelo caminho de tamanha sanha destruidora.

 

Gosto de relacionar os acontecimentos cotidianos, sejam bons ou ruins, com a arte, muitas vezes despretensiosa em criticar as mazelas humanas, mas que – em seus versos, letras, melodias, dramas e comédias – está dizendo muito mais do que supõe a nossa vã filosofia. Pensando nisso, resolvi visitar, neste nos próximos artigos, a canção “Pra começar”, composta por Antônio Cícero e Marina Lima, também intérprete. Vamos à letra:

           

Pra Começar, quem vai colar

Os tais caquinhos do velho mundo? Quem vai?

Pátrias, famílias, religiões e preconceitos.

Quebrou não tem mais jeito.

Agora descubra de verdade o que você ama

Que tudo pode ser seu.

Se tudo caiu, que tudo caia, pois tudo raia.

E o mundo pode ser seu.

 

Acho interessante a letra perguntar mais de uma vez quem, pra começar, estaria disposto a colar os caquinhos do velho mundo. Ninguém, e por quê? Porque não aparecerá ninguém. É por isso que a pergunta “Quem vai?” fica solta no ar. Não há resposta simplesmente porque a humanidade não olhará para trás quando entrar definitivamente no compasso de uma marcha evolutiva que nos deixará sem a mínima vontade de engatar a marcha-a-ré, algo que, infelizmente, ainda acontece. Por isso, os caquinhos do velho mundo, quando pisarmos definitivamente no acelerador do progresso moral e social, serão varridos para a lata de lixo da História.

 

Vamos aos primeiros caquinhos a que a canção se refere: pátrias.

           

Que conceito de pátria o mundo ainda tem? A potência que sobrepuja outras pátrias? Poderio econômico, cultural e territorial? Armas, incluindo as nucleares? Orgulho do solo e da raça tamanhos, a ponto de não hesitarmos em dar o sangue para defendê-los? A tirania e a miséria, que faz cidadãos fugirem atordoados para outros países, na grande maioria das vezes, por vias ilegais? Xenofobia, que persegue e maltrata quem está, de forma ilegal, nesta ou naquela nação tentando viver de forma digna?

 

Em todas as Copas do Mundo de Futebol de 2014, observo que os hinos nacionais (que os jogadores de futebol sempre cantam, perfilados, antes da partida), além do ufanismo habitual, falam que, se houver necessidade, os filhos da terra pegarão em armas para defender o solo que lhes serve de pátria. O Hino Nacional Brasileiro, inclusive: “Mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta”.


Penso que, se as nações querem de fato a paz e, apesar dos pesares de sempre, envidarem esforços para que ela se faça presente, teremos de mexer na letra dos hinos nacionais que incitam ao combate. Pode ser até utópico de minha parte. Ao mesmo tempo, concluo: por que não? Por que não hinos que além da natureza e cultura locais, exaltem o acolhimento a filhos de outras plagas, a cooperação mútua, o respeito à diversidade, o entendimento e o diálogo?

 

Sei que é humanamente impossível o mundo se reunir numa só nação. Ninguém quer isso, aliás. A diversidade de climas gera costumes e necessidades diferentes. Todos os países possuem suas danças, rituais, culinária típica, convicções religiosas, trajetória histórica, folclore etc. No entanto, torço para que a humanidade amadureça e se canse desse modelo deveras saturado de um governante sobrepujando o próprio povo e chamando outras nações para o embate por causa de petróleo, nióbio, madeira, água e outros tantos itens. Quando isso finalmente acontecer, os povos acordarão e viverão para ajudar uns aos outros. E os hinos nacionais que ouvimos de quatro em quatro anos nas Copas do Mundo ficarão obsoletos e terão de ser substituídos por outros que reflitam uma nova ordem social calcada cada vez mais na colaboração e cada vez menos na competitividade.

 

O conceito que o mundo tem de pátria guerreira, potente, conquistadora e orgulhosa irá cair. Marina Lima e Antônio Cícero acertaram na mosca.

 

Marcelo Teixeira

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