Consciência negra: um tema para todos nós
- Marcelo Teixeira
- 4 de nov. de 2024
- 3 min de leitura

Sou branco. E por morar na Região Serrana do RJ, sou mais branco ainda. Raramente vou à praia ou piscina e, por conseguinte, não tomo sol. Poderia até estender uma toalha no quintal da minha casa, passar um protetor solar e ganhar um bronzeado, mas prefiro pegar sol quando há água abundante por perto. E, confesso, fico mais na água do que fora dela.
Como todo branco azedo, sou bem tratado quando entro no supermercado, na boutique e transito livremente por hotéis, restaurantes e aeroportos. Em suma: não sinto na pele o que é receber olhares enviesados por ser negro, algo infelizmente comum num país ainda escravagista feito o nosso.
Novembro, no qual acabamos de entrar, é o Mês da Consciência Negra, com feriado nacional a partir deste ano: 20 de novembro.
Estou dizendo isso tudo porque vi, nas redes sociais, um vídeo lamentável sobre um episódio ocorrido na orla de Copacabana, famoso bairro da capital fluminense. Nele, algumas pessoas (brancas) vestidas de verde e amarelo manifestavam-se, entre outras coisas, sobre o referido mês. Segundo a senhorinha que fazia uso do microfone, era injusto falar sobre consciência negra sem levar em conta a Princesa Isabel, que, segundo ela, “lutou contra tudo e contra todos” para libertar os escravos.
Uma boa olhada em obras como “Escravidão”, do jornalista Laurentino Gomes e nas páginas que vários ativistas, sociólogos e historiadores negros mantêm nas redes sociais coloca o argumento da senhorinha por terra em três tempos. Em primeiro lugar, porque a Redentora não lutou contra tudo e todos. A escravidão, aliás, foi extinta debaixo de várias concessões aos latifundiários. Entre elas, não haver reforma agrária ou ressarcimento financeiro que beneficiasse o povo negro. Em segundo porque a fala dela evidencia falta de cultura geral, consciência de classe, memória histórica e principalmente de consciência negra!
É exatamente isso que você acabou de ler – falta ao povo branco consciência negra. Ou alguém, a essas alturas do campeonato, ainda acredita que só o povo negro precisa ter consciência da história de quem veio escravizado da África para cá, ancestralidade, cultura e religiões de matriz africana?
Os negros cada vez mais tomam consciência de suas raízes e ocupam todos os espaços sociais. Cada vez mais, veremos ativistas, atores, magistrados, pilotos, médicos, psicólogos, engenheiros etc. negros. E veremos moda negra, maquiagem para a pele negra, manifestações culturais negras etc. Eles – reitero – ocuparão todos os espaços, que lhes são de direito.
Eles sabem o que é sentir na pele a exclusão, o preconceito, a desconfiança e até a truculência. Quem do povo negro ainda não se conscientizou, cedo ou tarde terá de fazê-lo. É o andar inexorável da carruagem do progresso humano.
Aos branquelos feito eu, apesar da carência de melanina na cútis, compete nos ilustrarmos e nos informarmos mais e mais sobre as demandas da comunidade negra e cerrarmos fileiras com eles para combater o racismo e todos os seus meandros. Não à toa, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que foi realizado no domingo, 3/11/2024, foram os desafios para a valorização da herança africana no Brasil. Já paramos para pensar que estudantes negros e brancos tiveram de escrever a respeito? E já tomamos consciência que esse tema está sendo exigido de todos nós dia após dia quando assistimos aos telejornais; andamos pelas ruas e lidamos com familiares, amigos, colegas de trabalho e desconhecidos? E houve também perguntas sobre o movimento “Vidas negras Importam”, Zumbi dos Palmares, cultura negra...
A Mãe África está cobrando de nós uma consciência negra. E cobrará ainda mais! Correspondamos!
Marcelo Teixeira







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