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[CRÍTICA] Um Dia Daqueles: uma comédia esperta sobre amizade, caos urbano e a arte de sobreviver com estilo

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

Sonhos, amizade, carisma e empatia: Um dia daqueles!
Sonhos, amizade, carisma e empatia: Um dia daqueles! (Foto: Reprodução / Ingresso)

Todo mundo já teve um daqueles dias em que parece que o universo inteiro resolveu conspirar contra você. Em Um Dia Daqueles (One of Them Days), lançado nos cinemas em 3 de abril de 2025, esse sentimento vira motor de uma comédia vibrante, com pitadas de crítica social, muito carisma e uma dupla de protagonistas que segura o filme com maestria. Dirigido por Lawrence Lamont e roteirizado por Syreeta Singleton, o longa entrega uma história sobre lealdade, desesperos urbanos e os laços que resistem às tempestades da vida.


Com Keke Palmer e SZA nos papéis principais, a produção une duas figuras carismáticas, cada uma com seu brilho próprio, para formar uma dupla que mistura doçura, impulsividade e empatia. O resultado é um filme que transita entre o pastelão e a sensibilidade, com momentos de riso descontrolado e outros de reflexão sobre o que significa ser mulher, negra e pobre em uma cidade que não dá trégua.


A trama: 1.500 dólares, um despejo iminente e zero plano

Dreux (Keke Palmer) e Alyssa (SZA) são melhores amigas, companheiras de apartamento e, de certo modo, irmãs de alma. Elas dividem as contas, os sonhos e as frustrações de uma vida apertada em Los Angeles. Tudo vai por água abaixo quando descobrem que Keshawn (Joshua David Neal), namorado de Alyssa, torrou o dinheiro do aluguel em uma aposta maluca. Com menos de 24 horas para evitar o despejo, elas partem em uma verdadeira corrida maluca pelas ruas da cidade tentando levantar 1.500 dólares.


O que se segue é uma sequência de esquemas improvisados, trabalhos questionáveis e encontros inesperados, incluindo uma tentativa frustrada de revender um anel de noivado, uma parceria inusitada com um velho hippie, e um job de dog walker que termina em desastre. No centro disso tudo está a amizade entre as duas, que se fortalece a cada perrengue compartilhado.

Estreia sensível e surpreendente da SZA!
Estreia sensível e surpreendente da SZA! (Foto: Reprodução / CinePop)

Keke Palmer: um furacão chamado Dreux

Keke Palmer já provou ser um talento multifacetado, mas em Um Dia Daqueles ela entrega uma das atuações mais afiadas e completas de sua carreira. Como Dreux, ela é ao mesmo tempo hilária, carismática e vulnerável. Em um minuto está aos berros com um gerente de banco; no outro, está consolando a amiga com um discurso comovente sobre dignidade.


Dreux é uma mulher que vive entre a pressão de fazer tudo dar certo e a certeza de que está sempre a um passo do fracasso. Trabalha como garçonete em um restaurante que não a valoriza, sonha em ter sua própria franquia de fast food e está constantemente apagando incêndios que não começou. Palmer injeta autenticidade em cada linha, com uma energia que lembra atrizes como Regina Hall e Tiffany Haddish, mas com um toque só dela.


SZA: uma estreia surpreendente e sensível

Se Palmer é o motor, SZA é o coração do filme. Em sua estreia no cinema, a cantora impressiona com uma interpretação doce e sincera. Alyssa é a amiga sonhadora, que vive flertando com a ideia de sucesso, mas raramente toma as decisões certas. Ingênua e levemente caótica, é ela quem provoca boa parte dos problemas da dupla, mas também quem oferece os momentos mais humanos e emocionantes do roteiro.


SZA transmite uma vulnerabilidade palpável, sem nunca deixar sua personagem cair no estereótipo da “garota perdida”. Há força em sua ingenuidade, e sua amizade com Dreux é retratada com tanto carinho que se torna o grande elo afetivo do filme. A química entre as duas é natural, crível e emocionante.

Cast bem feito, humor na medida e realidade retratada com qualidade
Cast bem feito, humor na medida e realidade retratada com qualidade (Foto: Reprodução / To na fama)

Humor com alma e crítica social embutida

O roteiro de Syreeta Singleton acerta em cheio ao equilibrar o riso com o realismo. Sim, é uma comédia, mas não do tipo que ignora as dificuldades da vida. O filme trata de despejo, subemprego, relações abusivas e gentrificação com a leveza de quem sabe que rir também é resistir.


Há uma cena marcante em que Dreux e Alyssa tentam vender roupas usadas para um brechó moderno, apenas para serem rechaçadas por uma funcionária que diz que o estilo delas “nao combina com a curadoria”. A crítica à elitização do estilo urbano está ali, mas sem panfletagem. É no riso que o filme insere suas cutucadas.


Coadjuvantes excêntricos que roubam a cena

Lil Rel Howery aparece como um comprador misterioso e negociante de itens raros que transforma uma cena de venda de joia em uma batalha de persuasão digna de Breaking Bad. Maude Apatow, como Bethany, interpreta uma influenciadora digital obcecada com yoga e incensos, sendo um retrato cômico da gentrificação que assola os bairros populares de LA.


Mas quem realmente rouba a cena é Katt Williams como Lucky, um morador de rua filosófico que oferece conselhos quase proféticos com um cigarro na boca e um cachorro mudo ao lado. Cada uma de suas falas mistura absurdo e sabedoria, funcionando como um oráculo involuntário da trama.

Direção estilizada com ritmo certeiro

Lawrence Lamont, conhecido por seus videoclipes e curtas, imprime um ritmo moderno ao filme, com montagem rápida, trilha sonora que vai de hip-hop lo-fi a pop retrô e uma fotografia quente e ensolarada, que capta tanto o brilho de Los Angeles quanto suas rachaduras.

A direção aposta em cenas longas com diálogos afiados, planos abertos para destacar a cidade como personagem e close-ups que intensificam os momentos de empatia. O resultado é um filme com identidade visual e ritmo ágil, que não se perde nas convenções do gênero.

Amizade e coração em um só filme
Amizade e coração em um só filme (Foto: Reprodução / Ingresso)

Recepção calorosa: bilheteria e crítica aplaudiram

Com uma nota de 94% no Rotten Tomatoes e mais de US$ 50 milhões arrecadados globalmente em menos de duas semanas, Um Dia Daqueles se tornou um sucesso inesperado. A crítica destacou especialmente a atuação da dupla principal, a inteligência do roteiro e a habilidade do filme em se manter leve mesmo tratando de temas sérios.


No CinemaScore, a obra recebeu nota "A-" do público, e nas redes sociais, a comoção tomou conta. Muitos espectadores relataram se verem refletidos nas dificuldades e soluções improváveis das protagonistas. Não à toa, uma série derivada estrelada por Katt Williams já está em desenvolvimento.


Um Dia Daqueles: quando a amizade é o único plano que funciona

Um Dia Daqueles é mais do que uma comédia de erros. É uma celebração da amizade feminina, da resiliência cotidiana e da capacidade de transformar caos em conexão. Com atuações brilhantes, humor afiado e uma sensibilidade rara para o gênero, o filme prova que dias ruins podem render boas histórias.


Para quem procura riso com alma, personagens com defeitos reais e uma história que fala ao coração (sem esquecer da barriga), Um Dia Daqueles é uma aposta certeira. Mais do que entretenimento, é um lembrete de que, quando tudo dá errado, ainda resta o amor de quem caminha com a gente.



Nota final: ⭐⭐⭐⭐½ (4,5/5)

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