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[CRÍTICA] Wicked: um espetáculo visual que encanta, mas não desafia

Manu Cárvalho

LUZ, CÂMERA, CRÍTICA! — Por Manu Cárvalho

Nota: ★★★★½


Wicked - Elphaba e Galinda
(Foto: reprodução/Universal Pictures)

Desde que assisti ao musical da Broadway, Wicked sempre teve um lugar especial na minha lista de histórias favoritas. A complexidade da relação entre Elphaba e Galinda, aliada às músicas emocionantes e ao impacto visual do espetáculo, fizeram com que eu nutrisse altas expectativas para a adaptação cinematográfica. Mas será que o filme entregou tudo o que prometia? Bom, a resposta é um pouco mais complicada do que um simples “sim” ou “não”.


Quando sentei na sala de cinema, estava pronta para ser transportada de volta a Oz de maneira inédita, com um olhar cinematográfico que poderia expandir e aprofundar ainda mais a grandiosidade do musical. A boa notícia? O filme é visualmente deslumbrante. A má notícia? Falta a ousadia que eu esperava para uma produção tão ambiciosa. Wicked tem momentos grandiosos e emocionantes, mas também há uma sensação de que o filme não ousa o suficiente para ser tão icônico quanto poderia.


Wicked - Elphaba e Galinda
(Foto: reprodução/Universal Pictures)

Uma história que sempre me tocou

O enredo de Wicked sempre me fascinou por subverter a história clássica de O Mágico de Oz. Aqui, vemos tudo pela perspectiva de Elphaba, a jovem de pele verde que nunca se encaixou e que, aos poucos, é moldada pela opressão e injustiça de Oz. No palco, essa jornada é intensa e emocionante. No filme, embora os elementos centrais estejam ali, senti que a adaptação jogou um pouco mais pelo seguro do que deveria.


Cynthia Erivo brilha como Elphaba. Sua voz é hipnotizante e traz a carga dramática necessária para momentos cruciais, como Defying Gravity, que, como esperado, foi um dos pontos altos do filme. Mas ao mesmo tempo, algumas decisões narrativas parecem acelerar a transformação da personagem sem o devido peso emocional. A transição de Elphaba de uma jovem ingênua para a figura temida como a Bruxa Má do Oeste deveria ser mais orgânica e impactante. O filme acerta ao manter a essência da personagem, mas a forma como sua trajetória se desenrola parece um tanto apressada.


O roteiro tenta equilibrar a magia do musical com um tom mais acessível ao público do cinema, mas, em alguns momentos, essa tentativa resulta em um enredo que poderia ter explorado melhor a densidade emocional da história. A amizade entre Elphaba e Galinda, que no musical é cheia de camadas e nuances, aqui parece menos intensa e mais previsível. O público sente a ligação entre as duas, mas sem a mesma profundidade emocional da peça.


Wicked - Elphaba e Galinda
(Foto: reprodução/Universal Pictures)

Galinda: uma surpresa agradável

Se há algo que me surpreendeu positivamente, foi a performance de Ariana Grande como Galinda. Confesso que estava cética quanto à escolha dela para o papel, mas fui pega de surpresa pelo equilíbrio entre sua presença cômica e sua habilidade vocal. Popular é divertida e carismática, e Grande consegue transmitir bem a evolução de Galinda ao longo do filme.


No entanto, o arco de sua personagem poderia ter sido melhor desenvolvido. No musical, Galinda tem uma das transformações mais sutis e impactantes da história. Sua jornada de uma garota fútil e despreocupada para uma mulher que carrega o peso das decisões políticas de Oz é fascinante. No filme, essa transformação ocorre, mas sem o mesmo impacto emocional. A adaptação poderia ter explorado melhor suas dúvidas e dilemas, aprofundando a complexidade de sua relação com Elphaba.


A relação entre as protagonistas é essencial para o sucesso da narrativa, e embora Cynthia Erivo e Ariana Grande tenham boa química em cena, algumas interações parecem rápidas demais para que o público sinta plenamente o peso das escolhas que cada uma faz ao longo da história. O filme acerta em retratar a cumplicidade inicial entre as duas, mas falha ao desenvolver de forma mais intensa a inevitável separação de seus caminhos.


Wicked - Elphaba e Galinda
(Foto: reprodução/Universal Pictures)

O deslumbramento visual... e a falta de risco

Jon M. Chu sabe criar um espetáculo visual. Já vimos isso em Em um Bairro de Nova York, e aqui ele não decepciona. Oz é lindo, vibrante e mágico – uma verdadeira festa para os olhos. O design de produção é minucioso, os figurinos são impecáveis e a fotografia trabalha com contrastes interessantes, refletindo as diferentes fases da história. Mas, apesar de toda essa beleza visual, a direção peca em explorar novas formas de contar essa história de maneira inovadora.


Algumas cenas musicais são encenadas de maneira previsível, quase como uma cópia direta da versão teatral. Eu entendo o desejo de manter fidelidade ao musical original, mas o cinema permite um leque de possibilidades narrativas e visuais que não foram completamente exploradas. Faltou um pouco de ousadia, aquele toque cinematográfico que poderia transformar Wicked de uma simples adaptação fiel para uma experiência cinematográfica inovadora.


Wicked - Elphaba e Galinda
(Foto: reprodução/Universal Pictures)

As músicas continuam o coração da história

Não há como negar: as músicas de Wicked continuam poderosas e emocionantes. Se há algo que o filme faz bem, é respeitar a trilha sonora icônica de Stephen Schwartz. For Good ainda emociona, No Good Deed mantém sua força e Defying Gravity impressiona. Mas, mesmo aqui, senti falta de um pouco mais de liberdade criativa.


Muitos números são encenados exatamente como no palco, e isso, por um lado, é um presente para os fãs do musical. Mas por outro, o cinema tem o poder de expandir essas cenas e dar novas perspectivas a elas. Gostaria de ter visto mais criatividade nesse aspecto, especialmente porque o filme tem tempo suficiente para explorar essas possibilidades.


A adaptação funcionou?

Eu diria que Wicked funciona como um filme para quem já ama a história. Se você é fã do musical, há muito o que apreciar aqui – as músicas, os figurinos, o cenário exuberante e a fidelidade ao material original. Mas se você nunca viu o espetáculo, talvez o filme não transmita toda a força e emoção que fazem de Wicked uma obra tão especial.


A divisão da história em duas partes também levanta dúvidas. Será que a segunda parte conseguirá entregar um desfecho épico e emocionalmente impactante? Ou corremos o risco de ver um desfecho previsível e sem a intensidade necessária? Essa resposta só teremos com o próximo filme.

Cynthia Erivo e Ariana Grande
(Foto: reprodução/Universal Pictures/Golden Globes)

Conclusão: um bom filme, mas com potencial para ser muito mais

Saí do cinema encantada, mas com aquela sensação de que Wicked poderia ter sido mais do que foi. É uma adaptação competente, fiel e visualmente deslumbrante, mas também segura demais, sem se permitir explorar novas camadas dessa história tão rica.


Cynthia Erivo e Ariana Grande entregam performances sólidas, a trilha sonora continua cativante e o design de produção é impecável. Mas o filme, por enquanto, se mantém dentro de um território seguro demais. Espero que a segunda parte traga o impacto emocional que fez do musical um fenômeno da Broadway.


Se você ama Wicked, vai encontrar muito para se emocionar. Mas se esperava algo revolucionário, talvez saia do cinema com a mesma sensação que eu: a de que algo essencial ficou faltando.

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