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Divaldo Franco, o Semeador de Luz: A despedida de um dos maiores líderes espíritas do Brasil

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 13 de mai.
  • 4 min de leitura

Aos 98 anos, o médium baiano parte em paz, deixando um legado de amor, acolhimento e serviço social que seguirá brilhando na Mansão do Caminho e no coração de milhares de pessoas

Divaldo Franco, o Semeador de Luz: A despedida
Divaldo Franco e Chico Xavier — Foto: Mansão do Caminho

Foi como uma tarde ensolarada que lentamente se transforma em crepúsculo: serena, bonita e cheia de significado. Assim foi a partida de Divaldo Franco, o médium, educador, conferencista, autor e, sobretudo, o coração pulsante por trás da grandiosa Mansão do Caminho. Na noite de terça-feira (13), às 21h45, na própria sede da instituição que ajudou a erguer e conduziu por mais de sete décadas, ele deixou o plano físico aos 98 anos, após enfrentar com serenidade uma batalha contra o câncer de bexiga.

Mas antes que lágrimas nos levem, vamos lembrar: o que Divaldo construiu aqui é de uma magnitude tão luminosa que é impossível não sorrir com gratidão.

Divaldo Franco: Um legado que cabe num mundo inteiro

Nascido em Feira de Santana, interior da Bahia, no longínquo 5 de maio de 1927, Divaldo começou a perceber seus dons mediúnicos ainda criança. Mas o que para muitos seria motivo de medo ou repressão (e de fato foi por um tempo), para ele tornou-se missão. Uma missão com “M” maiúsculo. Em 1952, ele fundou, junto com o amigo Nilson de Souza Pereira, a Mansão do Caminho, no bairro Pau da Lima, periferia de Salvador. Um espaço que começou com acolhimento e logo se tornou um verdadeiro oásis de dignidade para milhares de crianças, jovens e famílias.

Morre Divaldo Franco, aos 98 anos — Foto: Mansão do Caminho
Morre Divaldo Franco, aos 98 anos — Foto: Mansão do Caminho

De acordo com dados da própria instituição, mais de 685 filhos afetivos passaram pela vida de Divaldo. Isso mesmo: seiscentas e oitenta e cinco histórias reescritas com afeto, educação e direção. Hoje, o complexo oferece desde creche, escola de ensino fundamental e médio, oficinas profissionalizantes, atendimento odontológico e psicológico, além de diversas atividades comunitárias — tudo sustentado, vejam só, com a venda dos mais de 250 livros psicografados por Divaldo e gravações de suas palestras mundo afora.

E que mundo foi esse! Divaldo palestrou em mais de 60 países, representando o Brasil em conferências da ONU e levando a doutrina espírita — e mais do que isso, um pensamento de paz e fraternidade — para todos os cantos do planeta.

Uma partida sem cortejos, mas com muito amor

A pedido do próprio médium, as cerimônias póstumas foram simples e respeitosas, como era seu estilo. Nada de cortejo em carro aberto. Nada de longas homenagens públicas. Um velório de portas abertas ao povo — como ele sempre foi — no ginásio da Mansão do Caminho, das 9h às 20h desta quarta (14). E um sepultamento discreto, às 10h da quinta (15), no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador.

O caixão permanecerá fechado. Mas o coração de cada pessoa presente estava escancarado de lembranças, de saudade e de uma admiração que é difícil colocar em palavras.

Iranildes Santos, por exemplo, é uma dessas flores que brotaram graças ao solo fértil da Mansão. Ela estudou lá, formou-se como auxiliar de enfermagem e hoje é servidora pública. “Agradeço, em nome de Jesus, pelos ensinamentos”, disse, emocionada.

Lucas Milagre, que morou com Divaldo por sete anos e o acompanhou pelo mundo nos últimos dez, resumiu com lágrimas nos olhos o que muitos sentem: “Ele era tudo. Um pai, um mestre, um farol.”

Mais que líder, um semeador de humanidade

A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 100 milhões de crianças vivem em situação de rua ao redor do mundo. Divaldo não esperou políticas públicas. Ele não esperou doações milionárias. Ele arregaçou as mangas. Transformou terreno em escola, tijolo em abrigo, palavras em esperança.

E tudo isso sem filhos biológicos. Mas, como já dissemos: ele é pai de centenas. E avô de milhares.

Aliás, pai da esperança. Pai da palavra que consola. Pai da ação que transforma.

Do plano terreno ao espiritual, com a missão cumprida

Em novembro de 2024, Divaldo Franco passou nove dias internado no Hospital São Rafael por conta dos desconfortos urinários — Foto: Mansão do Caminho
Em novembro de 2024, Divaldo Franco passou nove dias internado no Hospital São Rafael por conta dos desconfortos urinários — Foto: Mansão do Caminho

Divaldo lutava contra o câncer desde novembro de 2024. Passou por radioterapia, quimioterapia leve, internamentos curtos, homecare. Mas nunca parou. Continuou sorrindo, escrevendo, guiando. Até que, na noite de terça-feira, descansou. A causa oficial ainda não foi divulgada, mas sabe-se que foi falência múltipla dos órgãos — natural para quem já havia se tornado eterno em vida.

E assim, Salvador se despede de um dos seus filhos mais ilustres. O Brasil perde uma voz. Mas o mundo espiritual ganha um mensageiro de paz.

Para além da fé: um exemplo de cidadania ativa

Mesmo para quem não compartilha da doutrina espírita, é impossível ignorar a dimensão do trabalho de Divaldo Franco. Em tempos tão marcados por intolerância, ele foi um símbolo de diálogo. Em tempos de desigualdade, ele escolheu a educação como ferramenta de transformação. E mais do que isso: fez tudo isso com humildade, bom humor e generosidade.

“Continuaremos a prestar os mesmos serviços e desejamos ampliar, crescer, assim como as Obras Sociais Irmã Dulce se desenvolveram bastante. A Mansão do Caminho crescerá no futuro, com toda certeza”, declarou o atual presidente da instituição, Mário Sérgio Almeida.

E nós, aqui da Revista Pàhnorama, não temos dúvida disso.

Um até breve com cheiro de flor de laranjeira

Talvez, ao fechar os olhos, Divaldo tenha escutado um coro de vozes agradecidas. Talvez tenha sorrido, como sempre fazia, e tenha dito, no seu sotaque doce: “Deus os abençoe, filhos.” E seguido, tranquilo, para os braços dos seus mentores espirituais.

Hoje, quem passa pela Mansão do Caminho não vê luto. Vê amor. Vê continuidade. Vê um sonho que não morre.

Divaldo Franco, o semeador de luz, vive. Em cada criança alfabetizada, em cada adulto acolhido, em cada alma despertada.


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