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Do Fogo à Liberdade: A Bruxa como Ícone do Feminismo Contemporâneo

  • Foto do escritor: Syrinx Sycorax Hekatina
    Syrinx Sycorax Hekatina
  • 12 de mai.
  • 3 min de leitura

 

O patriarcado, foi responsável por silenciar e apagar os saberes ancestrais das mulheres, especialmente aqueles associados aos conhecimentos ligados à cura com ervas, ao parto, à espiritualidade, à observação da natureza e aos ciclos do corpo feminino transmitidos entre mulheres por gerações que representavam uma forma de autonomia e poder fora do controle das instituições masculinas.

A Igreja e o Estado taxaram esses saberes como bruxaria e demonizar as mulheres que os detinham, o patriarcado deslegitimou a sabedoria feminina, substituindo-a por práticas dominadas por homens, como a medicina institucionalizada e a teologia cristã oficial.

E foi nesse contexto que se solidificou a construção da imagem da bruxa como uma mulher velha, feia e ameaçadora, usando essa figura para alimentar o medo e justificar a perseguição às mulheres que escapavam dos padrões sociais esperados. O envelhecimento feminino, que poderia ser associado à sabedoria e à experiência, passou a ser visto como algo grotesco e suspeito, ligado à decadência e à maldade.

Queimando, torturando e silenciando essas mulheres, o patriarcado tentou apagar uma memória coletiva de poder feminino, substituindo-a por um modelo de submissão e dependência.

As mulheres da Idade Média, viviam em uma sociedade profundamente patriarcal, onde os papéis femininos eram restritos ao espaço doméstico e à obediência às autoridades masculina — seja do pai, do marido ou da Igreja.  E ainda que lutassem contra este sistema, não podemos considerá-las feministas, pois não havia da parte delas esse movimento de luta por igualdade. Era apenas uma luta por sobrevivência.

Somente no ano de 1862, o arquivista francês Jules Michelet, na obra “A Feiticeira” valorizou a religião pagã e defendeu que a bruxaria seria a reminiscência do paganismo antigo que ao ser marginalizado se transformou em um movimento de protesto. E ainda atribuiu a feiticeira, o papel heroico de compostura política e de inspiração para os camponeses.

Durante a década de 60 ocorreram transformações sociais profundas como a contracultura, luta pelos direitos civis, movimento feminista, rejeição dos valores tradicionais ocidentais e o movimento New Age que surge como uma resposta espiritual a esse contexto, promovendo o autoconhecimento, espiritualidades alternativas, sincretismo religioso, conexão com a natureza e o sagrado feminino.

Dentro do movimento New Age, os principais temas relacionados eram autonomia do corpo feminino, ou seja, a conexão entre espiritualidade e libertação sexual. A prática de rituais de empoderamento como círculos de mulheres, invocação de deusas, práticas lunares. E a utilização da magia como resistência: a prática mágica era vista como forma de se reconectar com saberes ancestrais femininos e desafiar estruturas de poder.

E desde então, a figura da bruxa tem sido ressignificada ao longo do tempo, tornando-se um símbolo poderoso dentro do feminismo. O feminismo recupera essa imagem como um ícone de resistência, força e sabedoria feminina, desafiando os sistemas patriarcais que marginalizaram e silenciaram mulheres ao longo da história.

A bruxa representa a mulher que se recusa a ser submissa, que busca conhecimento por conta própria e que reivindica seu espaço no mundo — atitudes muitas vezes demonizadas em sociedades controladas por estruturas masculinas. Essa reinterpretação permite que a bruxa se torne uma metáfora da emancipação feminina, da luta contra a opressão e da valorização das vozes que foram injustamente apagadas pela história.

No cinema contemporâneo, a imagem das bruxas também passou por uma significativa transformação, refletindo mudanças sociais e culturais. Se antes as bruxas eram frequentemente retratadas como vilãs monstruosas, feias e ameaçadoras — reforçando estereótipos misóginos —, hoje elas aparecem com maior complexidade, sendo protagonistas de suas próprias histórias. Em muitos filmes atuais, a bruxa é símbolo de empoderamento, sabedoria e resistência, conectada a forças naturais e ancestrais que desafiam estruturas de dominação, como visto em produções como The Witch (2015), A Bruxa de Blair (1999), Malévola (2014) e séries como WandaVision (2021).

A Bruxa como Ícone do Feminismo Contemporâneo
Imagem de bruxas (Retirada do Site Pinterest)

Essa mudança na representação acompanha o crescimento do interesse por narrativas que exploram a autonomia feminina, a espiritualidade alternativa e a reconexão com o feminino sagrado. Essa nova abordagem não apenas reabilita a figura da bruxa, mas também oferece ao público feminino modelos de protagonismo que subvertem os padrões tradicionais de heroísmo e vilania.

Ao resgatar essa imagem, o feminismo contemporâneo denuncia as violências históricas cometidas contra mulheres e transforma a bruxa em um emblema de empoderamento e justiça. Nesse contexto, ser "bruxa" não é mais um insulto, mas um ato de reivindicação identitária, política e cultural — um grito de liberdade frente a séculos de opressão.


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