Enquanto o Ideb despenca, o futuro de milhões de brasileiros permanece à margem e a classe política lucra com o caos estrutural
Você já se perguntou por que, no país do “jeitinho”, a educação pública continua sendo a grande piada sem graça? Pois bem, os últimos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mais uma vez escancaram uma verdade que a gente tenta varrer para debaixo do tapete: o ensino público brasileiro é um navio à deriva, e o naufrágio já é uma realidade para milhões de estudantes.
No Brasil, a educação pública não está em crise. Crise implica surpresa, desordem momentânea. O que temos é um plano bem arquitetado, uma engenharia meticulosa que transforma a desigualdade em modelo de negócios. O último Ideb, com sua queda grotesca, é só o reflexo de um sistema desenhado para falhar. Não por acaso, mas por conveniência.
As escolas públicas, com salas lotadas e tetos desabando, não são apenas o retrato do descaso. São parte de um projeto que beneficia quem lucra com a ignorância. Quanto pior o ensino público, maior a clientela das escolas privadas. E enquanto as elites investem pesado na educação dos filhos para garantir a perpetuação de privilégios, a população mais vulnerável tropeça em currículos ultrapassados, professores mal pagos e políticas educacionais que não saem do papel, por isso o fracasso escolar.
O abismo está nos números. Apenas 10% dos alunos concluem o ensino médio com o mínimo de competência em matemática. Nas periferias, essa estatística desce ainda mais ladeira abaixo. Os professores, guerreiros anônimos desse campo de batalha, são obrigados a trabalhar em condições sub-humanas. Como cobrar resultados quando o básico falta?
A verdadeira questão nunca foi falta de recursos. Em 2023, o Brasil investiu mais de R$ 380 bilhões em educação. Então, por que os índices só pioram? Porque o dinheiro nunca chega onde deveria. Entre licitações superfaturadas e programas que desaparecem antes de serem implementados, os cofres públicos viraram uma torneira aberta para interesses privados.
A quem interessa formar cidadãos críticos e empoderados, capazes de romper ciclos históricos de pobreza? Certamente não, a quem lucra com a desigualdade. Enquanto a elite política brada discursos vazios sobre "futuro brilhante", escolas públicas seguem sendo depósitos humanos, formando não cidadãos, mas engrenagens descartáveis para o mercado de trabalho precarizado.
As evidências estão aí, mas a indignação coletiva virou artigo raro. Quem ousa apontar para o verdadeiro problema? É mais fácil culpar o professor, o aluno, a falta de disciplina. Ninguém quer admitir que, enquanto se "modernizam" sistemas de avaliação, os estudantes são abandonados em corredores esvaziados de esperança.
O futuro do Brasil não está à margem. Ele foi deliberadamente jogado lá. Educação de qualidade não é utopia; é escolha política. E escolher não educar é garantir a perpetuação de um país desigual, controlado por poucos. Mas até quando o silêncio será conveniente?
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