Festival do Vale do Café: Celebrando duas décadas de tradição e sabor, o evento promete uma programação especial repleta de cultura, gastronomia e uma viagem ao nosso passado
- Da redação

- 10 de jul.
- 7 min de leitura
Atualizado: 11 de jul.
Por Rafaela Grande, Renata Freitas e Jéssica Lopes

A Revista Pàhnorama foi convidada a visitar a Fazenda Florença, uma das integrantes do circuito do festival, para uma Press Trip (viagem de imprensa) exclusiva com o objetivo de conhecer e divulgar o Festival do Vale do Café, junto a outros veículos de comunicação. Criado em 2003, é um evento anual que mistura concertos de música erudita e instrumental, oficinas de música para jovens, apresentações em antigas fazendas cafeeiras e roteiros culturais e históricos. Nasceu com a missão de resgatar e reinterpretar a memória da região cafeeira, dando espaço à música de qualidade e à reflexão sobre o passado, além de conectar história, arte e turismo de forma sustentável, recebendo o Prêmio de Cultura do RJ pela Secretaria do Estado do Rio de Janeiro em 2017, destacando seu impacto socioeconômico: cada R$ 1 investido retorna mais de R$ 5 à economia local. Acontece, principalmente, nas cidades de Vassouras, Barra do Piraí, Valença, Rio das Flores, Engenheiro Paulo de Frontin e Conservatória.
O Festival acontece no Vale do Café, essa região turística localizada no Vale do Paraíba, situada entre o sul do Estado do Rio de Janeiro e São Paulo, ao longo do rio Paraíba do Sul, conhecida por sua história ligada ao ciclo do café no século XIX. Atualmente, a região conta com diversas atividades culturais, como visitas guiadas às fazendas históricas, museus, igrejas e outros locais que preservam a arquitetura e a cultura da época, além de desfrutar de atividades como passeios a cavalo, trilhas e degustação de produtos locais. O Vale do Café se tornou uma região turística histórica pois oferece rota de fazendas do século XIX restauradas, turismo cultural, gastronômico e de experiência, e eventos que abordam tanto a riqueza cultural quanto os legados da escravidão. Além do festival, há iniciativas de educação patrimonial, museus e roteiros afrocentrados que valorizam a história de forma crítica.
João, o gerente da Fazenda, explicando sobre a colheita do café Foto: arquivo pessoal
A região do Vale do Paraíba Fluminense foi o primeiro grande polo de produção de café do Brasil. Entre as décadas de 1820 e 1870, o café produzido ali abastecia o mercado internacional e sustentava o Império. Fazendas como Santa Eufrásia, Cachoeira Grande e São Luiz da Boa Sorte,em Vassouras, eram símbolos de riqueza e poder. A economia era baseada no trabalho escravizado, com alta concentração de terra e riqueza. E Vassouras chegou a ser chamada de “Cidade dos Barões”, pela opulência dos grandes proprietários de terra. No fim do século XIX, a exaustão do solo, a abolição da escravidão (1888) e a expansão do café para o Oeste Paulista levaram ao declínio econômico da região. Muitas fazendas foram abandonadas ou convertidas em sítios históricos.
Com a intenção de reverter esse declínio, instaurou-se o processo de resgate material e imaterial do patrimônio histórico e cultural associado ao ciclo do café do século XIX no Vale do Paraíba Fluminense, como uma das iniciativas mais relevantes de preservação histórica no Brasil, com forte impacto cultural, educacional e turístico. Envolve a preservação física de bens históricos, como arquitetura, documentos, objetos, fazendas, igrejas e estradas do período cafeeiro. Trata, também, da preservação das memórias, saberes, narrativas, práticas sociais, artísticas e culturais relacionadas ao ciclo do café. Propõe o registro e valorização da oralidade, com histórias de famílias, ex-escravizados, trabalhadores rurais e moradores antigos da região. Promove a educação patrimonial em escolas públicas locais, integrando jovens às narrativas históricas locais. Além de oficinas e atividades culturais que resgatam saberes culinários, música popular e erudita da época e festividades religiosas ligadas ao calendário das fazendas. O resgate não idealiza o passado: também trata com seriedade e responsabilidade a herança escravocrata do ciclo do café. Algumas fazendas oferecem roteiros de memória afro-brasileira, como trilhas dos escravizados e espaços de resistência cultural. Há projetos que destacam saberes das benzedeiras e curandeiras, manifestações culturais afrodescendentes, como jongo, cantigas e batuques e reflexões sobre o pós-abolição, cultura da terra e identidade negra.
Fazenda Florença Foto: arquivo pessoal
O Festival Vale do Café se tornou, então, o catalisador desse processo de resgate e se consolida como um movimento cultural importante para Estado do Rio de Janeiro, já que permite revisitar nosso passado e ressignificá-lo, a partir da cultura, educação, entretenimento e reflexão propostos. Além de gerar centenas de empregos anualmente, incentivar as produções locais de alimentos, como o próprio café, o leite, queijo e outros derivados. Divulga, ainda, o Estado do Rio de Janeiro em suas riquezas histórico-culturais a nível nacional e internacional, com grande valorização do turismo regional. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a cada ano o Festival movimenta mais o setor da economia e turismo das cidades do Sul do Estado do Rio. Os hotéis ficam lotados, gerando empregos nas áreas de turismo, comércio, transporte, entre outros. Pode-se afirmar que se tornou uma referência em desenvolvimento sustentável.
A abertura será sediada na histórica Fazenda Florença, localizada em Conservatória. Durante a semana de comemoração dos 20 anos do Festival, várias fazendas abrirão suas portas para visitação do público, que poderá aproveitar as diversas atrações, como apresentações musicais, passeio pelas fazendas, saraus históricos que contam com pessoas caracterizadas à época, ilustrando nossa história, vivências gastronômicas com a culinária local e experiências sensoriais com o café produzido na região. Será mais uma grande oportunidade de reencontro das raízes do Vale com o próprio Brasil e a emoção de viver mais um capítulo importante dessa trajetória.
Ao longo de nosso dia, de clima agradável e temperaturas amenas, o Sr. Paulo Roberto dos Santos, proprietário da Fazenda Florença, contou um pouco mais sobre a casa sede e sua arquitetura, bem como sobre as outras fazendas da região que participarão do circuito, do cultivo do café e da trajetória do festival, podemos afirmar que recebemos uma pequena aula de História sobre uma época de nosso país. Estávamos em um grupo de mais de 10 jornalistas e lembro de um pensamento unânime: a Europa é o destino mais procurado para o turismo histórico e até arquitetônico, inclusive entre os brasileiros, mas esquecemos de buscar em nosso próprio território esses fragmentos que resistem e se reinventam apesar das tentativas de apagamento de nossas memórias.
Fazenda Florença Foto: arquivo pessoal
A arquitetura de estilo eclético caracterizada pela junção de inspirações europeias e brasileiras imperiais trazida pelos nobres e barões, que faziam de suas terras uma extensão da capital. A madeira que era utilizada como peso necessário para o trânsito dos navios vindos de África e Europa, reconhecidamente nobre hoje, eram reaproveitadas nas construções, como pilares talhados que sustentam o teto da varanda da casa. Já na entrada, pequenos quartos chamados de alcovas, sem janelas e sem contato com os outros espaços da casa, eram reservados para crianças ou vendedores de café e outras mercadorias, convidados a passar a noite na fazenda, pelas condições precárias de transportes ao escurecer da noite. Na antesala de jantar, com um livro culinário exposto com as receitas de época na mão, Paulo nos explica quais jantares eram oferecidos naquele espaço, como jantares cotidianos dos moradores ou convidados comuns. Já no salão principal, uma mesa opulenta reservada aos convidados mais nobres, onde a família permanece em figuras de estátuas em tamanho natural, de D. Pedro II, Imperador do Brasil entre 1831–1889, e D. Teresa Cristina, Imperatriz consorte e esposa de Dom Pedro II.
Estátuas em tamanho natural na sala de jantar principal Foto: arquivo pessoal
Seus jardins abrigam a capela da propriedade, construída há mais de 20 anos por Paulo, reaproveitando o espaço onde antes era um singelo oratório e seguindo fidedignamente o estilo arquitetônico que remete a época. Os trabalhos de arte sacra em papel chamam a atenção: santos em pequenos altares por toda a extensão das paredes, produzidos por um artesão local que recebeu reconhecimento por sua técnica original de reciclagem de papel. No púlpito, a imagem de Jesus alado é inspirada na escultura da Igreja de São José, que fica no Centro do Rio de Janeiro. Sentados em seus bancos entalhados, ouvimos Paulo contar sobre essa construção, sua relação pessoal com o padre da comunidade, que celebra missa aberta à comunidade todo dia 19. Ainda confessa não ser devoto de São José, mas que sua esposa é devota e, por isso, dedicou-lhe a ela esse trabalho.
Capela construída por Paulo Foto: arquivo pessoal
Para o almoço, desfrutamos da culinária local, com um almoço feito em fogão a lenha e sobremesas produzidas no local desde os ingredientes, como as goiabas colhidas na própria fazenda e utilizadas para a produção de uma goiabada cascão sem igual, o pudim cremoso quase como doce de leite. Nos reunimos na Trattoria Florença, restaurante da fazenda, em um momento de acolhimento, entre risos, sorrisos e sabores em um bate-papo descontraído. Dessa experiência é possível entender a importância da qualidade dos ingredientes e da agricultura local.
Após almoço, fizemos uma caminhada pelo cafezal, onde pudemos observar o processo de secagem da fruta. Tivemos uma experiência do pé a xícara, conduzida pelo João Roberto, gerente da fazenda e responsável pelo cultivo do café. Experimentamos a fruta direto do pé, colhida pelo anfitrião, e sentimos o doce fruto do café. João nos explicou, ainda, como funciona processo do feitio do produto final e um pouco sobre a preparação para os concursos de melhor café. Inclusive, o café já foi premiado algumas vezes, em nível estadual e nacional de melhor café. Recebemos uma breve explicação sobre a produção e comercialização desse café, com detalhes sobre a separação e a torra desses grãos. Pudemos entender que se trata de uma produção artesanal e sustentável de café, que busca resgatar a tradição de sua história se mantendo relevante no presente.
Hora do almoço na Fazenda Florença Foto: arquivo pessoal
Para fechar esse dia, deliciosamente bucólico e educativo, fizemos um lanche da tarde com bolos e mais café no salão onde são realizados os saraus históricos, com personagens caracterizados à época e concertos de piano. Após essa experiência recepção generosa com direito à pacote de café gourmet de produção própria para todos, só resta a nós, equipe da Páhnorama, fazer o convite para conhecer um pouco da nossa história contada de forma leve e fluida por toda a experiência imersiva que o Festival do Vale do Café pode oferecer.
Serviço: Para essa edição, o evento reunirá atrações do porte de Turíbio Santos, de Felipe Naim a Leo Gandelman, passando por Cristina Braga, Marcel Powell e Ulisses Rocha.
Evento: Festival Vale do Café 2025
Data: 18 a 27 de julho
Locais: Pinheiral, Barra do Piraí, Piraí, Rio das Flores, Vassouras, Valença e Engenheiro Paulo de Frontin
Entrada gratuita
Mais informações e programação completa: https://festivalvaledocafe.com.br/programacao/

Equipe Pàhnorama: Rafaela Grande, Renata Freitas e Jéssica Lopes - Foto: Jéssica Lopes













































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