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Quando a batida é resistência: Ludmilla e os 4 milhões que tomaram a Paulista pelo amor

  • Foto do escritor: Da redação
    Da redação
  • 23 de jun.
  • 3 min de leitura

Na 29ª Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de São Paulo, Ludmilla não apenas cantou para 4 milhões de pessoas — ela fez história ao transformar a Avenida Paulista em um manifesto sonoro de liberdade, afeto e representatividade preta e lésbica.

Ludmilla e os 4 milhões que tomaram a Paulista pelo amor
Reprodução/Instagram

“Paraíso é te chamar de amor.” A frase, projetada em uma bandeira gigante no alto de um prédio da Avenida Paulista, não era só um verso. Era um recado. Era um grito. Era um espelho para milhões de corpos que dançavam, choravam, se beijavam e resistiam. No trio da Amstel, Ludmilla, mulher preta, bissexual, funkeira, popstar e mãe, emocionava 4 milhões de pessoas e entrava definitivamente para a história da maior Parada LGBTQIAPN+ da América Latina — e uma das maiores do mundo.

De Caxias à Paulista: a potência de uma mulher preta no centro do orgulho

De onde vem tanta força? De uma menina criada na Baixada Fluminense que, mesmo tendo o Brasil contra si, nunca pediu licença para existir — apenas aumentou o som. Ludmilla começou no funk, foi desacreditada por críticos e resistiu às tentativas de apagar sua identidade. E resistir, para ela, sempre foi verbo coletivo.

“Eu nunca pensei que ia ver uma mulher como eu, preta, sapatão, sendo a estrela de tudo isso. Ela não é só uma cantora, é um farol”, disse Thainá, estudante de letras de 22 anos, que veio da zona leste só pra ver Lud.

Na Parada, ao lado da esposa Brunna Gonçalves, Ludmilla transformou a avenida em altar. Cantou “Paraíso”, sua nova faixa — uma ode à maternidade lésbica, ao afeto negro, ao amor livre. No visual da música, ela e Brunna aparecem como duas Evas mordendo a maçã proibida. Não por provocação gratuita, mas para ressignificar o mito cristão que historicamente exclui: “o paraíso é onde o amor existe — não onde ele é julgado”.

“Ver ela com a Brunna, ver elas mães, felizes, é o que me dá força pra existir. Eu, que sou do interior, levei muito tempo pra me aceitar. Hoje, tô aqui com meu namorado de mão dada. Obrigado, Lud”, contou Felipe, 30, pedagogo.

Uma trilha sonora para o futuro que queremos

A apresentação não foi apenas um show. Foi um manifesto pop. Ludmilla emendou “Rainha da Favela”, “Sou Má” e “Maldivas” com discursos breves, mas incisivos: “Vocês sabem que eu estou aqui por vocês. Pela coragem de vocês, pela minha, pela da minha família. Se hoje a gente canta aqui, é porque ontem muita gente morreu pra gente viver.”

E ela não exagera. A violência contra pessoas LGBTQIAPN+ ainda assombra o Brasil. Segundo dados do Observatório de Mortes Violentas de LGBTQIA+, só em 2023 foram 230 mortes. Dessas, 78% eram pessoas pretas. A presença de Ludmilla ali, no topo de um trio elétrico, é mais que música: é reparação histórica.

Números que dançam — mas também alertam

  • 4 milhões de pessoas estiveram presentes no evento, segundo a organização — o maior público da história da Parada em SP.

  • Ludmilla é a primeira artista negra e bissexual a ser atração principal de um trio oficial no evento.

  • O vídeo de “Paraíso” alcançou mais de 7 milhões de visualizações em três dias.

O poder simbólico de Ludmilla em 2025

Num país que ainda desumaniza corpos negros e dissidentes, Ludmilla se tornou símbolo. E não por escolha do marketing — mas por coragem política. Ao subir naquele trio, ela não levou só hits. Levou uma infância de racismo, uma juventude de invisibilização e uma maternidade recém-conquistada com afeto, suor e direitos.

Em tempos de retrocessos, ela reafirma: o orgulho é luta, mas também é festa. É lágrima, mas também é batida. É revolução, mas também é família. É sobre o direito de existir — e de brilhar.

Quem ocupa o trio, transforma a história

Enquanto o Brasil tenta calar vozes dissidentes, Ludmilla liga o microfone. E transforma dor em melodia, opressão em coreografia, exclusão em desfile.

A pergunta que fica: e se todas as avenidas fossem ocupadas por corpos livres como os que dançaram com Ludmilla naquele domingo? Que país poderíamos ser se todo amor fosse tratado como digno de parada?

A boa notícia é que, enquanto o som não para, a esperança também não.

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