Recebi a visita de uma amiga que acabou de voltar de uma viagem ao Pará. Seu destino principal: Ilha do Algodoal. Ela passou a virada do ano em Belém e depois foi para a Ilha, onde permaneceu por cinco dias.
Eu estava ansiosa para escutar sua experiência e quais as impressões desse lugar tão distante geograficamente falando e culturalmente também (uma vez que moramos em Curitiba). Carol começou sua fala com a seguinte colocação: "Eu me arrepio e me emociono muito para falar daquele lugar, me conectei de uma forma impressionante e estou apaixonada por tudo que existe na ilha". E de fato ela se emocionou mesmo ao contar todos os detalhes da sua viagem. Devido a esse tom emotivo, me interessei ainda mais pelo seu relato, o qual aqueceu meu coração ao perceber como ela estava feliz em ter vivido tal experiência.
Não vou me ater às informações de ordem prática da viagem dela, mesmo porque são detalhes facilmente encontrados no Google. Uma busca rápida já lhe fornecerá tudo o que precisa saber sobre como chegar, onde se hospedar e o que visitar. O que eu gostaria de explorar nesse artigo é justamente esse sentimento, esse arrepio que a Carol descreveu.
Existem duas formas de fazer turismo. A primeira é se envolver superficialmente com a localidade: o que significa passar o tempo todo rolando o feed das redes sociais sem se conectar verdadeiramente com o momento vivido; não conversar curiosamente com a população local para conhecer as diferenças daquele grupo social e ficar restrito apenas aos atrativos turísticos já divulgados. A segunda é ser um turista interessado em promover uma troca e um aprofundamento das relações. Mas como fazer isso? Ao chegar na localidade, uma atitude importante é abandonar um pouco a necessidade de estar conectado às redes sociais e/ou a necessidade constante de postar fotos para mostrar aos outros onde você está. Ao investir muito tempo nessas atividades, você acaba perdendo um tempo precioso para realmente desfrutar do momento presente. Além disso, procure conversar com os moradores em busca de lugares aonde eles vão, para compreender o valioso para eles - talvez a cachoeira que eles frequentam seja até mais linda e barata do que as divulgadas! Sente-se por uns instantes na praça, na calçada e observe como eles vivem, como caminham, qual seu ritmo, sua maneira de falar, o que comem, como se vestem, que música escutam. Deixe o preconceito de lado e se abra para explorar essas diferenças.
Foi somente assim, sendo uma turista profundamente interessada no "outro" sem julgamentos, que possibilitou a Carol vivenciar a experiência da Ilha do Algodoal de forma mágica. Segundo ela, depois que chegou em casa, passou bons dias relembrando dos momentos simples e felizes, e se emocionou ao perceber como vive sua rotina de forma dura, triste e vazia. A Ilha do Algodoal ensinou a Carol que existe outras formas de condicionar o ritmo da vida. Por exemplo, na região onde estava, é comum os eventos da natureza imporem o ritmo das atividades cotidianas. O que pode provocar um certo desespero para uma metropolitana que não está acostumada a ter que esperar a chuva passar e/ou aguardar a maré baixar para poder caminhar até o outro lado da praia. Mas e se, em vez de se irritar, a gente souber relaxar? Enquanto aguardamos a chuva passar, temos mais tempo para contemplar o momento presente, ou quem sabe até tomar um banho de chuva?!
Outra coisa que a Carol aprendeu foi que a vida não deve ser vivida em função exclusiva do trabalho, que ele é apenas um dos diversos aspectos da vida, e não o mais importante. É clichê, mas o que nutre mesmo a alma são as mais simples experiências da vida. Como tomar um solzinho no gramado do Jardim Botânico. "É tão pertinho de casa, por que eu nunca faço isso?" Precisou visitar o outro lado do país para se lembrar que no dia a dia é possível sim ter doses homeopáticas de magia e beleza.
Ser um turista engajado e consciente não é tarefa fácil, é preciso dedicação para permitir que aquele momento vivido seja de fato transformador. Do contrário, voltaremos para casa da mesma forma que saímos. Se for assim, qual é a graça de ter saído então?
Por Camila Kahlau
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