Olá camarada leitor, como lhe encontro hoje? Vamos falar de coisa séria? Eu sei, anarcocapitalismo não é coisa séria, mas a influência que está gerando em nossa sociedade é.
Com a recente eleição do governo Milei na Argentina, o crescimento do ancapismo no Brasil e o surgimento de pessoas "redpill", me vejo obrigado a falar sobre o assunto.
Não é de hoje que há uma piada que diz: “Se você tem mais de 16 anos e ainda defende o ancapismo, então precisa de terapia”.
Vamos começar do princípio. O que é ancap?
Ancap é o diminutivo de anarcocapitalismo, sendo que anarco está para anarquia, que é um sistema político baseado na ausência de Estado ou qualquer tipo de autoridade, hierarquia ou dominação.
Já o capitalismo é um sistema econômico baseado em monopólio, visando reter os meios de produção e acumular bens para causar manipulação de mercado, usando de todas as táticas necessárias para manter o poder e gerar lucro. Para um capitalista, dinheiro não é um pedaço de papel que lhe permite comer ou ser feliz; é uma algema no nosso pescoço.
Anarcocapitalismo é um sistema econômico de governo onde não há Estado, mas sim, empresas e trabalhadores. Todos comercializam livremente o que possuem pelo que querem, sendo livres de qualquer regulamentação, pois ela surgia naturalmente pelas leis da oferta e demanda.
A definição em si já é problemática, pois capitalismo é monopólio, é posse de propriedade privada, que não deve ser confundida com propriedade pessoal, e dominação sobre tudo e todos, enquanto o anarquismo é a vontade e necessidade de ser livre.
Numa sociedade ancap, teríamos empresas donas de policiamento e militares.
Uma sociedade ancap visa não ter estado, mas a partir do momento que uma corporação detém empresas de saúde, transporte, policiamento, educação e militarização, essa corporação torna-se o novo estado. Com a diferença de poder haver várias corporações no mesmo país, gerando vários estados numa mesma cidade. Os historiadores têm um termo para isso: feudalismo.
Imagine, meu caro leitor, um mundo onde a Disney entra em guerra militarizada - soldados, tanques e bombas - contra a Amazon para ver quem engole a Microsoft.
Imagine uma sociedade onde uma pessoa precise vender os próprios órgãos para comprar uma comida ultra processada para as crianças, pois não conseguiu um contrato para ser jardineiro, fazendeiro, professor ou matador de aluguel.
Sim, matador de aluguel será uma profissão possível nessa sociedade, pois não há leis ou regulamentações, a não ser as leis e regulamentações que a corporação ditar para seus funcionários. Quer sair matando gente por aí? Se não causar queda nas ações, vá em frente, talvez te façam até policial ou tenente.
E não se preocupe se for difícil de imaginar uma sociedade ainda mais doentia que a nossa. Escritores e cineastas já pensaram nessa possibilidade antes de nós. Há um gênero muito propenso para esses pensamentos: "cyberpunk”.
Parece até que um fã do gênero gostou tanto que escreveu um manifesto usando “Neuromancer” como guia de instruções.
Posso citar alguns títulos: franquia "Robocop" e "Bladerunner", "Estranhos prazeres", franquia "Deus Ex", "Idiocracia", "Neuromancer", "Androides sonham com ovelhas elétricas?", "Ghost in the shell", "Matrix" e o meu favorito, "Cyberpunk 2077", jogo e animação.
Quero lembrar que, por mais escalafobéticas que essas histórias possam ser, são obras culturais que evidenciam os medos dos momentos presentes de quando foram compostas. "Robocop", por exemplo, é um alerta sobre uma sociedade capitalista com os moldes que possuía na década de 1980. O assustador é o quanto esse medo não apenas continua atual, mas está se realizando.
Qualquer um de olhe para essa realidade e diga - “Nossa, é nisso que quero viver?” - ou não consiga enxergar as implicações de livre mercado sem regulamentação com dominação da propriedade privada (meios de produção), precisa rever suas crenças.
Por Allan Falciani
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