O humor no Brasil: um ato de resistência
- Ranielson Cambuim

- 13 de set.
- 3 min de leitura
Maurício Meirelles desafia a ideia de que a realidade brasileira dificulta o trabalho do comediante, defendendo que o caos do país oferece um campo fértil para a comédia, desde que haja um "viés diferente".
O humor nasce do desconforto, do improviso e, muitas vezes, do caos. Se isso é verdade, o Brasil é um dos palcos mais férteis do mundo para a comédia. Maurício Meirelles, um dos nomes mais afiados do stand-up nacional, encara o absurdo da realidade brasileira como combustível criativo — e não como obstáculo. Em conversa exclusiva com a Revista Pàhnorama, o comediante provoca, questiona e reafirma que rir de si é um ato de resistência.

Revista Pàhnorama: Tá sendo fácil ser um humorista no Brasil ou o redator do Brasil está maior que isso?
Maurício Meirelles: Cara, é muito boa essa pergunta. Eu acho assim, eu já falei isso, né, que é muito difícil às vezes você competir com a própria realidade, quando a realidade é essa loucura que é o Brasil, mas eu acho que a melhor coisa que a gente pode fazer, né, com todas as histórias que está acontecendo no Brasil, é você ter um viés diferente do que as pessoas estão fazendo. O Brasil te fornece muitas histórias que faltam conclusões, às vezes que a gente fica pensando como mostrar ou reagir, mas todo mundo fala assim, ah, esse é o pior momento para fazer comédia no Brasil. Eu não acredito não, cara, acho que é o melhor momento, acho que tem muita gente que gosta de ouvir os maiores absurdos exatamente porque hoje em dia o que é exatamente correto tira os absurdos das pessoas, então as pessoas às vezes pagam para vir aqui ouvir coisas que elas querem ouvir. Então nesse caso está mais fácil fazer comédia.
RP: Agora, falando nisso, você contou muitas piadas que hoje é um crime nesse país. Quando você se entrega para a polícia?
MM: Cara, não sei, não sei quando daqui a pouco a arte vai ser vista como problema em absolutamente todos os lados, será que isso vai acontecer. Bom eu acho que assim desde o começo do show a gente explica que isso daqui é um show de absurdos, um show de comédia. Nada do que a gente está falando é nossa opinião pessoal. Só que as coisas têm graça quando elas são controversas. Se você falar as coisas óbvias que estão acontecendo na sociedade, você não está fazendo comédia, você está só reportando o que está acontecendo. Então as pessoas elas querem de alguma maneira que você dê uma balançada no cérebro pensando de outra forma. Obviamente o meu tipo de comédia tende a não. Mas sem respeitar ninguém, o objetivo é só a gente rir da nossa própria idiotice, então eu tô mais tranquilo em relação a ser preso, mas nunca se sabe dia de amanhã. Obrigado. Vai ver.
Entre ironias e reflexões, Maurício Meirelles reafirma uma máxima que a comédia insiste em lembrar: o riso é, antes de tudo, uma forma de enfrentar a realidade. Num país em que a política se confunde com piada pronta e a vida cotidiana desafia qualquer roteiro, o humor segue sendo um respiro, mas também um espelho — daqueles que, ao mesmo tempo em que divertem, obrigam a pensar. Afinal, se a realidade é caótica, talvez só o humor consiga traduzi-la.







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