Hollywood premia a superficialidade e ignora a grandiosidade de um cinema que realmente importa
Se alguém ainda tinha esperanças de que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas valorizasse narrativas profundas e atuações de peso, o Oscar 2025 tratou de esmagá-las com sua escolha previsível e lamentável. “Anora”, um filme que glorifica a trajetória de uma jovem prostituta em busca de ascensão pessoal, saiu como o grande vencedor da noite, enquanto o impactante "Ainda Estou Aqui", uma obra-prima que aborda dor, resiliência e luta familiar, foi relegado a um mero prêmio de Melhor Filme Internacional. Mais um golpe do etarismo e da falta de visão da indústria.

A futilidade vence, a grandeza perde
A escolha de Anora sobre Ainda Estou Aqui escancara a prioridade da Academia: premiar histórias rasas, com personagens que mal arranham a superfície da complexidade humana, ao invés de narrativas densas, emocionalmente devastadoras e socialmente relevantes. Enquanto Anora vende um conto de sobrevivência individualista e mercadológico, Ainda Estou Aqui mergulha no impacto real da dor, na força de uma mãe que resiste, no peso de um luto que não paralisa, mas ensina a lutar.
A atuação de Anora é esquecível. Não há uma entrega genuína, não há camadas de interpretação, não há um mergulho na personagem – apenas mais um papel artificialmente construído para agradar o público e a crítica deslumbrada com rostos jovens e tramas palatáveis. Enquanto isso, Ainda Estou Aqui entrega uma atuação visceral, onde cada olhar, cada silêncio, cada lágrima de Fernanda Torres carrega um oceano de dor e resistência. Mas, para Hollywood, envelhecer significa tornar-se invisível.
Oscar 2025: Etarismo descarado e a obsessão por juventude e futilidade

Se há uma lição que esse Oscar nos deu, é que a Academia está longe de superar seu preconceito contra atrizes mais velhas. Fernanda Torres entregou uma apresentação arrebatadora, mas foi solenemente ignorada pela indústria, que se recusa a premiar mulheres que já ultrapassaram a faixa dos 50 anos. A mensagem é clara: em Hollywood, só há espaço para a juventude. Atrizes maduras? Só se for para papéis secundários, de preferência como mães ou avós sofridas.
A escolha de Anora não é apenas uma decisão questionável – é um reflexo da misoginia e do etarismo enraizados na indústria cinematográfica. Se a protagonista do filme fosse uma mulher mais velha, será que o roteiro teria o mesmo apelo? Se Ainda Estou Aqui tivesse uma atriz de 25 anos no papel principal, será que o resultado teria sido diferente? Hollywood precisa urgentemente se olhar no espelho.
A hipocrisia da Academia e sua falsa progressividade
A premiação deste ano também reforça a hipocrisia da indústria. Por um lado, a Academia insiste em discursos inflamados sobre inclusão, representatividade e justiça social. Por outro, continua ignorando filmes que verdadeiramente desafiam narrativas convencionais e expõem as feridas da sociedade. Ainda Estou Aqui tinha todos os elementos para ser uma escolha justa e impactante: uma protagonista feminina forte, um tema relevante e uma abordagem artística impecável. Mas o que venceu? Uma história confortável, embaladinha para a plateia aplaudir sem precisar refletir.
E não para por aí. Além de ignorar a força de Ainda Estou Aqui, o Oscar 2025 foi marcado por outras polêmicas que escancaram as contradições da premiação: tweets racistas de indicados, uso de inteligência artificial em roteiros e até um caso de blackface nos bastidores. Mas tudo isso foi convenientemente varrido para debaixo do tapete, enquanto a indústria segue distribuindo estatuetas para filmes que reforçam sua própria bolha.
O que o Oscar de 2025 nos diz sobre o futuro do cinema?
Se este ano serviu para alguma coisa, foi para reforçar que a Academia continua longe de se tornar realmente progressista e criteriosa. Em vez de celebrar obras que transformam e emocionam, continua premiando o que é vendável, fácil de consumir e pronto para ser transformado em uma hashtag. Se Hollywood não mudar sua mentalidade, continuará repetindo esse ciclo desgastado de premiar o passageiro e ignorar o essencial.
O Oscar 2025 foi um reflexo da prioridade pela juventude e a futilidade, de uma indústria que, ao invés de evoluir, segue refém de suas próprias contradições. Enquanto isso, o verdadeiro cinema, aquele que emociona, impacta e transforma, segue sendo feito – com ou sem a aprovação da Academia.
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