Desafiando a Gravidade do Cinema: 'Wicked' Chega às Telonas com Brilho e Polêmica
Se a jornada até a Cidade das Esmeraldas é cheia de magia, a estrada percorrida por Wicked até os cinemas não foi menos épica. Após quase duas décadas de espera e expectativas altíssimas, a adaptação do musical que redefiniu a narrativa de O Mágico de Oz finalmente chegou às telas. Dirigido por Jon M. Chu e estrelado por Ariana Grande e Cynthia Erivo, Wicked é um espetáculo visual que brilha, mas também tropeça em alguns momentos.
CRÍTICA POR ANA SOÁRES
Desde a primeira nota de “Defying Gravity”, fica claro que estamos diante de algo ambicioso. As cores vibrantes, os cenários deslumbrantes e os figurinos impecáveis criam uma imersão mágica. Jon M. Chu, conhecido por sua habilidade em transformar histórias em grandiosos eventos visuais (Podres de Ricos, Em um Bairro de Nova York), não poupou esforços — nem orçamento. A sequência inicial, com campos de tulipas reais e coreografias impecáveis, é um convite irresistível ao mundo de Oz. Mas, será que só brilho basta para sustentar essa história tão querida?
O Peso da Representatividade e os Desafios do Elenco
Se o musical original foi revolucionário ao explorar questões como preconceito, empatia e poder, a versão cinematográfica parece andar na corda bamba. Cynthia Erivo entrega uma Elphaba poderosa, equilibrando vulnerabilidade e força. Sua interpretação de “The Wizard and I” é de arrepiar, mostrando por que ela já é uma EGOT em potencial. E Ariana Grande? Entre as dúvidas que cercaram sua escalação, a atriz cala os críticos com uma Glinda carismática, que transita entre a superficialidade cômica e a profundidade emocional.
Porém, a decisão de dividir a história em dois filmes não foi sem custo. O ritmo sofre, com algumas cenas arrastadas e subtramas que poderiam ter sido mais dinâmicas. Será que precisávamos de tanto tempo para contar a primeira metade de Wicked? Esse é o tipo de pergunta que fica na mente ao sair da sala de cinema.
Cuidado, Dorothy! O reino de Oz acaba de ganhar uma reinvenção cinematográfica tão espetacular que até os sapatos vermelhos cintilam mais forte. Wicked, o aguardado prelúdio de O Mágico de Oz, chega às telonas com a força de um tornado emocional e visual, transformando o legado de um clássico em algo absolutamente novo e intrigante. Sob a direção de Jon M. Chu (Podres de Ricos), o musical toma a liberdade de desafiar todas as expectativas – e, ironicamente, desafia até mesmo a gravidade.
Mas vamos por partes. A história que todos pensávamos conhecer, sobre a Bruxa Má do Oeste e a Bruxa Boa do Norte, ganha camadas surpreendentes de humanidade e crítica social. Elphaba (Cynthia Erivo), com sua pele verde e mente brilhante, e Glinda (Ariana Grande), a carismática patricinha com brilho de estrela, nos mostram que nem tudo é preto ou branco – ou, neste caso, verde ou rosa. E o roteiro de Dana Fox e Winnie Holzman traduz com perfeição essa dualidade, misturando humor, drama e melodias icônicas.
Elphaba, Glinda e nós – a complexidade de ser humano
A interpretação de Erivo e Grande vai muito além do esperado. Cynthia Erivo carrega Elphaba com um peso emocional quase palpável, entregando momentos que vão do cômico ao devastador, enquanto Ariana Grande surpreende com uma Glinda afiada e hilariante, mostrando que nem toda fofura vem sem um toque de ironia. A química entre elas é o coração pulsante do filme, especialmente em cenas como o baile de Ozdust e o apoteótico Defying Gravity – uma performance que faz você questionar por que ainda estamos aqui e não nos juntamos à revolução de Elphaba.
Cores, movimentos e... críticas?
Chu transforma Oz em um espetáculo vibrante, com paletas que oscilam entre o mágico e o sombrio. A direção de arte não é apenas visualmente deslumbrante, mas também nos leva a refletir sobre o que o "verde" de Elphaba simboliza: exclusão, preconceito e, talvez, resistência. No Brasil, é impossível não traçar paralelos com as nossas próprias histórias de opressão e luta. O quanto ainda marginalizamos quem é diferente?
E o futuro?
Com Wicked dividido em duas partes, este primeiro ato é apenas o começo. Ainda há muito a explorar, mas já fica claro que o filme não é apenas um espetáculo; é um lembrete poderoso de que há sempre dois lados – e às vezes, o "mau" só está tentando sobreviver em um mundo que se recusa a ouvir.
Enquanto aguardamos a segunda parte, uma coisa é certa: Wicked é mais do que uma adaptação. É um convite para desafiar a gravidade, as expectativas e até mesmo as narrativas com as quais crescemos. Você está pronto para voar?
No Brasil...
Interessante notar como Wicked conversa com questões universais. Elphaba, com sua pele verde e talentos incompreendidos, pode muito bem ser vista como uma metáfora para as lutas por aceitação em uma sociedade que não sabe lidar com o diferente. Aqui no Brasil, onde as discussões sobre diversidade ainda encontram resistências, Wicked ganha um significado ainda mais profundo. Afinal, quantos “Elphabas” não temos em nosso cotidiano, desafiando sistemas que preferem manter as coisas como estão?
Comments