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CRIOLA, 33 anos de insurgência: mulheres negras no centro da luta por reparação e Bem Viver

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 4 de set.
  • 2 min de leitura

Por mais de três décadas, a organização CRIOLA vem sustentando uma das trincheiras mais firmes da luta antirracista no Brasil. Fundada em 1992, em um cenário em que a CPI da Esterilização escancarava a violência silenciosa contra corpos de mulheres negras, a instituição nasce para dizer o óbvio que o país insiste em negar: não há democracia possível sem o protagonismo de meninas e mulheres negras, cis e trans.

Equipe de CRIOLA (créditos: divulgação)
Equipe de CRIOLA (créditos: divulgação)

Hoje, 33 anos depois, CRIOLA reafirma seu compromisso com o combate ao racismo patriarcal cisheteronormativo e com a construção do Bem Viver — filosofia que atravessa séculos de resistência e aponta para uma sociedade baseada em justiça social, coletividade e respeito à diversidade.

A memória que pulsa

O legado da organização é atravessado por histórias que o Brasil oficial tentou sepultar. Quando denúncias de esterilizações forçadas emergiram nos anos 1990, CRIOLA foi uma das vozes a gritar contra a necropolítica de Estado que determinava quem podia ou não gerar vida. Essa luta marcou o início de uma trajetória que nunca se distanciou da denúncia radical do racismo estrutural.

Lúcia Xavier, coordenadora geral da organização, resume essa caminhada:

“Hoje, comemoramos mais um tempo desta ação coletiva e queremos também lembrar que estamos em contagem regressiva para mais uma atuação política que todas nós, mulheres negras, estamos construindo: a Marcha de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá em Brasília, no dia 25 de novembro, mês da Consciência Negra.”

A segunda marcha: um milhão de passos contra a exclusão

Se em 2015 mais de 100 mil mulheres negras tomaram a Esplanada dos Ministérios e inauguraram um marco histórico da luta antirracista no país, em 2025 a meta será ainda mais ousada: reunir 1 milhão de vozes negras exigindo reparação. Reparação pela escravidão que estruturou desigualdades que seguem vigentes; reparação pela violência obstétrica; pela letalidade policial que ceifa vidas negras diariamente; pela exclusão do mercado de trabalho formal, onde mulheres negras ainda recebem em média 44% menos do que homens brancos, segundo dados do IBGE (2024).

A marcha não será apenas um ato simbólico, mas uma plataforma política viva, que articula quilombolas, indígenas, periféricas, lésbicas, bissexuais e trans em um projeto coletivo de futuro.

Mulheres negras e a urgência do Bem Viver

O Bem Viver, conceito ancestral que inspira a ação da CRIOLA e de tantas organizações, é mais que uma utopia. É um chamado para resgatar práticas de solidariedade comunitária, relações harmônicas com a natureza e a recusa a modelos de sociedade baseados na exploração e no individualismo.

Em um país em que o racismo segue ditando índices de mortalidade materna, evasão escolar, desemprego e encarceramento, pensar o Bem Viver é um gesto radical de sobrevivência e de reinvenção.

Em tempo

Ao completar 33 anos, CRIOLA nos lembra que a luta por justiça racial e de gênero não é episódica, mas contínua, diária e coletiva. Se a democracia brasileira ainda cambaleia, é porque insiste em negligenciar a centralidade da vida das mulheres negras.

A pergunta que fica é: estaremos, como sociedade, preparados para caminhar lado a lado com essas mulheres rumo a um projeto de país onde o Bem Viver seja realidade para todas e todos?

Porque a história já mostrou: quando mulheres negras marcham, não há estrutura de poder que permaneça intocada.

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