Mulheres Negras lançam frente de Combate à Violência Racial na OAB/RJ
- Ana Soáres

- 22 de set.
- 2 min de leitura
Na tarde desta terça-feira (23), a sede da OAB-RJ, no centro do Rio, abre espaço para um movimento histórico. Pela primeira vez, mulheres negras assumem a linha de frente na criação de uma Comissão de Combate à Violência Racial, um organismo que nasce não apenas para discutir, mas para agir diante de uma chaga estrutural que atravessa mais de 400 anos de história: o racismo no Brasil.

A urgência de uma resposta institucional
O Brasil, país com a maior população negra fora da África, convive diariamente com números alarmantes. Segundo o Atlas da Violência 2024, mais de 77% das vítimas de homicídio em 2022 eram negras. Entre as mulheres, a violência racial se soma à violência de gênero, compondo um cenário de vulnerabilidade que ainda não encontra políticas públicas efetivas.
É nesse contexto que surge a comissão. Sob a presidência de Ingryd Souza e com a vice-presidência de Mariana Belisario, a iniciativa conta com o apoio direto da presidente da OAB-RJ, Ana Teresa Basílio, e se propõe a mais do que um espaço de debates: pretende criar estratégias jurídicas e sociais para enfrentar o racismo institucional e cotidiano.
Vozes que ecoam resistência
“Não podemos mais aceitar que a violência racial seja tratada como um detalhe. Ela é o alicerce de uma desigualdade que se repete todos os dias nas delegacias, nos tribunais, nas universidades e até dentro da própria OAB”, afirma Ingryd Souza.
Mariana Belisario completa:
“Nosso compromisso é transformar indignação em ação. Queremos que esta comissão seja um instrumento de proteção e reparação, mas também de transformação cultural.”
Raça, gênero e interseccionalidade
A criação da comissão também marca um avanço na compreensão da OAB sobre a necessidade de enxergar a interseccionalidade entre raça e gênero. Mulheres negras ainda são a base da pirâmide social: recebem, em média, 44% menos que homens brancos no mercado de trabalho (IBGE, 2023), e enfrentam obstáculos maiores para acessar justiça, saúde e educação de qualidade.
Programação do lançamento
O evento acontece às 14h, na sede da OAB (Av. Marechal Câmara, 150, 4º andar) e contará com mesas de discussão sobre:
Racismo institucional e responsabilidade do Estado
Violência racial e o papel da advocacia na reparação
Mulheres negras e o sistema de justiça: desafios e perspectivas
Além disso, representantes de movimentos sociais, juristas e ativistas culturais estarão presentes para fortalecer o caráter plural da comissão.
Mulheres negras entre o passado e o futuro
A história do Brasil não pode ser dissociada do racismo. Mas iniciativas como esta demonstram que o futuro não precisa repetir o passado. A criação da Comissão de Combate à Violência Racial na OAB-RJ é um marco simbólico e prático, capaz de pressionar instituições a romper com a inércia que sustenta a desigualdade racial.
Afinal, como questiona Ingryd Souza:
“Se o sistema de justiça não é capaz de proteger quem mais precisa, para que ele serve?”.
O lançamento de hoje não é apenas um ato institucional: é um chamado à sociedade. Resta saber — estamos prontos para ouvir essas vozes e, mais ainda, para mudar as estruturas que insistem em calá-las?
Serviço:
Lançamento da Comissão de Combate à Violência Racial
Local: Sede da OAB/RJ Centro
Av. marechal câmara, 150- 4 andar
Horário: 14 horas.













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