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Festival D' Benguela: a revolução preta que pulsa do chão da Pequena África

  • Foto do escritor: Ana Soáres
    Ana Soáres
  • 21 de jul.
  • 4 min de leitura
Festival D' Benguela: a revolução preta que pulsa do chão da Pequena África
Divulgação

No coração da Pequena África, onde os passos dos nossos ancestrais ainda ecoam entre as pedras da Rua Pedro Ernesto, uma revolução acontece — e tem cheiro de dendê, som de atabaque, gargalhada de mulher preta e o brilho de quem sabe que resistir é também celebrar. No próximo dia 27, o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB) será palco da 3ª edição do Festival D'Benguela — uma celebração do Julho das Pretas, que já não pede licença para existir. Chega ocupando, reverberando, transformando.

Mais do que um festival, é um ato político de amor ancestral.

De um sonho íntimo ao grito coletivo: Festival D'Benguela

Marcele Oliver, idealizadora do Instituto e uma das mentes brilhantes por trás do evento - Divulgação
Marcele Oliver, idealizadora do Instituto e uma das mentes brilhantes por trás do evento - Divulgação

“Quando criei o festival através do Instituto Avança Nega, eu só queria reunir minhas irmãs e celebrar. Não imaginava que ele iria tomar essa proporção”, revela Marcele Oliver, idealizadora do Instituto e uma das mentes brilhantes por trás do evento que, desde 2022, honra a memória de Tereza de Benguela — líder quilombola que resistiu à escravidão com altivez, inteligência e coletividade.

O que começou como um gesto de afeto virou um espaço de mobilização e formação crítica. Com o apoio do Movimento Sustenta, liderado pela ativista Milena Alves, o festival hoje transcende o campo artístico para se firmar como um território de disputa simbólica, política e econômica.

“Unir forças por um bem comum ainda é o melhor caminho”, reforça Milena, com a certeza de quem semeia justiça em solo árido há anos.

Pretas Vivas: honrar quem segue abrindo caminhos

Pretas Vivas: honrar quem segue abrindo caminhos
Divulgação

O ponto alto do evento é o Prêmio "Pretas Vivas", que homenageia mulheres negras que fazem história em diferentes áreas: cultura, saúde, comunicação, economia, espiritualidade, habitação. Mulheres que não aparecem nas capas de revistas convencionais, mas estão há décadas escrevendo capítulos inteiros da verdadeira história do Brasil — aquela que raramente se ensina nas escolas.

A cada nome anunciado, o festival reafirma que viver — e viver com dignidade sendo mulher negra — é um ato de bravura. E merece ser celebrado em vida.

Afetos, ritmos e resistência

Afetos, ritmos e resistência
Divulgação

A programação é intensa, mas afetiva. O palco principal receberá Glória Bonfim, uma das grandes vozes da música de matriz afro-brasileira, ao lado da vibrante Margarete Mendes e da atriz-bailarina Egili Oliveira, Rainha Retinta do Carnaval, que fará uma performance de abertura que promete arrepiar até os pilares do museu.

No som, DJ Orkídia mistura afro-brasilidades como quem costura memórias. E entre uma apresentação e outra, os painéis de conversa — todos eles essenciais — abordam temas como:

  • Intolerância Religiosa

  • Educação financeira para mulheres negras

  • Justiça habitacional e o direito à cidade

Em um país onde o racismo religioso mata a fé e o direito à moradia é uma ferida urbana, ouvir mulheres pretas pensarem soluções é não só necessário: é urgente.

Mais que festa, política pública: cuidado e acolhimento

Mais que festa, política pública: cuidado e acolhimento
Divulgação

O Festival D'Benguela também olha para o corpo e o cotidiano das mulheres negras. Além da arte, há ações sociais e de cuidado:

  • Vacinação e orientações sobre saúde da mulher

  • Feirão da casa própria com assessoria gratuita

  • Espaço Kids para mães que querem curtir com segurança

  • Feira gastronômica e afroempreendedora, valorizando quem move a economia preta

Tudo isso com entrada gratuita, via Sympla. Um direito acessado sem obstáculos — como deve ser.

Julho das Pretas: mais do que uma data, uma convocação

Julho das Pretas: mais do que uma data, uma convocação
Divulgação

O “Julho das Pretas” surgiu há mais de uma década como uma resposta organizada às ausências históricas de mulheres negras nos espaços de poder. Inspirado pelo 25 de julho — Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha —, o mês tornou-se símbolo de denúncia, memória e visibilidade.

No Brasil, país onde mulheres negras são 28% da população, mas ocupam menos de 5% dos cargos políticos, segundo o IBGE, o Julho das Pretas não é uma celebração: é um manifesto. E o Festival D'Benguela, seu grito mais doce e potente.

Por que importa tanto?

Porque não se trata apenas de cultura, mas de reparação. O Museu onde o festival acontece está situado na mesma Pequena África onde negros libertos fundaram comunidades, religaram espiritualidades e refundaram a identidade brasileira.

Celebrar Tereza de Benguela ali, onde o Brasil se reconstrói desde baixo, é escrever história com afeto e consciência.

Refletindo

Quantas Terezas de Benguela estão vivas hoje, silenciadas nas filas do SUS, nas casas alugadas que não são delas, nos trabalhos precarizados, nas escolas públicas sem estrutura?

Quantas mulheres negras sustentam o Brasil sem que o Brasil sustente suas vidas?

O Festival D'Benguela não resolve tudo. Mas planta. Cultiva. E nos convoca a cuidar — das histórias, dos corpos, dos afetos. Porque sem mulher negra livre, não há país possível.

Festival D'Benguela

Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB)

25 de julho, a partir das 14h

Entrada gratuita via Sympla

Rua Pedro Ernesto, 80 — Pequena África, Rio de Janeiro

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NKISI CRIATIVO
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22 de jul.
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Evento acontece no dia 25

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