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Luighi Hanri e a solidão de ser negro no futebol

Cusparadas, insultos e lágrimas: até quando a sociedade vai normalizar o racismo nos gramados?


Luighi Hanri e a solidão de ser negro no futebol
Luighi Hanri - Reprodução/Instagram @luighihanri

Luighi Hanri tem só 18 anos. Dezessete a menos do que a Lei 7.716, que criminaliza o racismo no Brasil. Tempo suficiente para nos fazer acreditar que avançamos enquanto sociedade. Mas a verdade vem nua e cruel nos estádios lotados da América do Sul. Durante a partida entre Palmeiras e Cerro Porteño, pela Libertadores, o jovem promissor, uma das joias da base alviverde, foi alvo de um dos atos mais desprezíveis que um ser humano pode sofrer: o racismo. Cusparada, xingamento de "macaco" e um silêncio sepulcral de quem deveria tomar providências imediatas.

O vídeo de Luighi chorando no banco de reservas é um soco no estômago. Não apenas pelo ato em si, mas pela estrutura toda que permite que esse tipo de crime siga acontecendo sem consequências reais. Um garoto de 18 anos, negro, vítima de uma agressão racista, sentado sozinho, devastado, enquanto o jogo continuava como se nada tivesse acontecido. Se isso não é um retrato da solidão do negro no esporte – e na sociedade –, o que mais seria?

A normalização do crime e a indiferença institucional

Racismo é crime, mas no futebol ele continua sendo tratado como "exagero", "mal-entendido", "coisa da torcida". Há sempre quem tente minimizar: "Foi só um insulto de jogo", "não precisa disso tudo", "ele é muito sensível". Frases que já ouvimos antes, quando Vinícius Júnior foi atacado na Espanha, quando Tinga foi humilhado no Peru, quando Aranha foi ofendido no Brasil. O roteiro se repete e o desfecho também: um inquérito, meia dúzia de notas de repúdio e nenhuma mudança estrutural.

O que aconteceu com Luighi Hanri não é um caso isolado. É apenas mais uma cicatriz na pele de um país que se recusa a encarar sua doença crônica: o racismo. E pior, seguimos exigindo que as vítimas tenham "postura", que não reajam, que engulam seco para não "manchar a partida".

Se um jovem negro precisa receber cusparadas e insultos racistas para entender como o sistema funciona, o que isso diz sobre nós?

Luighi Hanri: A dor da solidão e o grito que ninguém quer ouvir

O rosto de Luighi no banco de reservas era um pedido de socorro. Mas quem estava ouvindo? Dentro de campo, os companheiros seguiam jogando, porque o futebol não para. No estádio, a torcida não ficou em silêncio em solidariedade ao garoto. Fora dali, a Conmebol emitiu uma nota protocolar e os clubes envolvidos fizeram o básico: indignação de praxe e uma promessa vazia de investigação.

" Dói na alma. E é a mesma dor que todos os pretos sentiram ao longo da história, porque as coisas evoluem, mas nunca são 100% resolvidas. O episódio de hoje deixa cicatrizes e precisa ser encarado como é de fato: crime. Até quando? É a pergunta que espero não ser necessária ser feita em algum momento. Por enquanto, seguimos lutando". Disse Luighi Hanri

É essa a solidão do negro no esporte. O crime acontece, mas a vítima se sente culpada por reagir. E quando chora, parece estar importunando. Como se sua dor fosse um incômodo maior do que o próprio racismo. Como se ser humilhado não fosse suficiente – é preciso aguentar calado.

Mas Luighi chorou. E sua dor, captada pelas câmeras, correu o mundo. Porque essa é a única maneira de fazer com que falem sobre isso. Precisamos ver um menino negro destruído emocionalmente para que o assunto entre na pauta do dia. E mesmo assim, por quanto tempo?

Racistas continuam passando. E o que estamos fazendo para barrá-los?

Nos últimos anos, ouvimos muito a frase "Racistas não passarão". Mas se olharmos para os gramados, os estádios, as arquibancadas e os corredores do poder no futebol, eles não apenas passaram – continuam desfilando. Continuam jogando cerveja em jogadores negros, imitando macacos nas arquibancadas, atacando árbitros negros, cuspindo em meninos de 18 anos.

Se o futebol é reflexo da sociedade, estamos olhando para um espelho quebrado.

Luighi Hanri jogará muitas outras partidas na vida. Terá gols, títulos e glórias. Mas também saberá, desde muito cedo, que seu talento não o protegerá do racismo. Que um estádio lotado pode ser a arena de sua humilhação, e que a justiça, quando chega, é tardia e insuficiente.

E nós? Vamos apenas esperar o próximo caso para repetir a mesma indignação de sempre?

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