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Ana Soáres

A invisibilidade histórica e o silenciamento da mulher preta imposto pela sociedade

Atualizado: 31 de dez. de 2023




Nos últimos anos, o Brasil testemunha um crescente protagonismo da mulher preta na sociedade. Longe da invisibilidade histórica e do silenciamento imposto pela sociedade, as mulheres negras têm se destacado em diversas áreas, colocando suas vozes no centro das discussões e redefinindo os padrões de representatividade.


Desde o início do processo de abolição da escravatura, no século XIX, as mulheres negras têm enfrentado desafios múltiplos, frutos de um sistema que perpetua desigualdades sociais, de gênero e raça. No entanto, é importante notar que, apesar de todas as limitações impostas, elas não só sobreviveram, mas também floresceram, lutando por seus direitos e conquistando espaços relevantes.


Um dos principais marcos dessa luta foi a criação da primeira organização feminina negra brasileira, o Grupo Mulheres Negras, em 1988. Fundado por Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro, o grupo revisitou uma pauta que até então era ignorada: a interseccionalidade entre a raça e o gênero. Essa organização ajudou a fortalecer a identidade e a conscientização das mulheres negras, ampliando sua representatividade e abrindo caminhos para futuros avanços.


No campo das artes, diversos movimentos colocam as mulheres negras em evidência. O cinema nacional vem produzindo obras que retratam suas histórias e experiências, como "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert, que aborda as relações entre patroas e empregadas domésticas, revisitando questões como racismo e desigualdade social. A escrita também é um importante meio expressivo, com autoras como Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus, que através de suas obras ampliam a representatividade e reafirmado a potência da mulher preta.


O protagonismo da mulher preta também tem se destacado no mundo dos negócios. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre 2012 e 2019, houve um aumento significativo do número de empreendedoras negras no país. Elas têm trazido inovação e criatividade aos seus negócios, destacando-se principalmente nos setores de moda, beleza e alimentação. Além disso, as mulheres negras também têm criado iniciativas de empoderamento e formação profissional, capacitando outras mulheres e oferecendo oportunidades de crescimento.


A mulher preta tem alcançado conquistas importantes na política. Atualmente, o Brasil conta com diversas lideranças negras de destaque, como Benedita da Silva, eleita a primeira vereadora negra da cidade do Rio de Janeiro, a primeira senadora negra do Brasil e a primeira governadora da cidade do Rio de Janeiro, hoje com 80 anos. Além disso, nas eleições parlamentares de 2018, foram eleitas as primeiras deputadas federais negras, como Talíria Petrone e Áurea Carolina, que têm contribuído para a formulação de políticas públicas mais inclusivas e igualitárias.


Apesar dos avanços significativos, é fundamental destacar que o protagonismo da mulher preta na sociedade brasileira ainda enfrenta desafios estruturais. O racismo estrutural persiste, resultando em disparidades no acesso à educação, saúde, emprego e segurança. Essas desigualdades criam obstáculos para que as mulheres negras alcancem seu potencial máximo e exerçam plenamente seu protagonismo.


Em síntese, o protagonismo da mulher preta na sociedade brasileira tem se tornado cada vez mais evidente. Mediante conquistas em áreas como arte, negócios e política, as mulheres negras têm rompido barreiras e se afirmado como agentes de mudança e transformação social. No entanto, é imprescindível que a sociedade na totalidade se engaje na luta contra o racismo estrutural, promovendo igualdade de oportunidades e abrindo espaços para que todas as vozes possam ser ouvidas e valorizadas.


Ana Soáres

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