Recentemente, uma foto divulgada pelo perfil do Comitê Olímpico do Brasil comparou a ginasta Rebeca Andrade à uma favela, enquanto a surfista Tatiana Weston-Webb foi associada a um país. Essa imagem ilustra de forma gritante as raízes profundas do racismo estrutural que permeia a sociedade brasileira e mundial.
Rebeca Andrade, nascida em Guarulhos, São Paulo, é a maior medalhista olímpica do Brasil, com duas medalhas de ouro, três de prata e uma de bronze. As quatro medalhas conquistadas em Paris 2024 fizeram dela a recordista de conquistas em uma só edição dos Jogos. Com apenas 25 anos, Rebeca se tornou um símbolo de excelência e dedicação no esporte, superando inúmeras adversidades ao longo de sua carreira.
Em contraste, Tatiana Weston-Webb, nascida em Porto Alegre, também brilha no cenário esportivo, conquistando uma prata histórica no surfe nos Jogos de Paris 2024. Filha de mãe brasileira e pai inglês, Tatiana se mudou para o Havaí com apenas duas semanas de vida, crescendo em um ambiente privilegiado e com acesso a recursos que impulsionaram sua carreira.
O racismo estrutural se manifesta na forma como a sociedade enxerga e trata atletas de diferentes raças. Rebeca Andrade, apesar de seu talento inegável e conquistas extraordinárias, foi reduzida a estereótipos raciais negativos. A associação de sua imagem com uma favela não só ignora seu mérito e esforço, mas também reforça a visão racista de que pessoas negras pertencem a ambientes desfavorecidos.
Por outro lado, Tatiana Weston-Webb é constantemente exaltada por sua origem, associada a uma trajetória internacional e a um perfil de sucesso que ignora as dificuldades enfrentadas por atletas de cor. A imagem de Tatiana, com seus cabelos loiros e olhos claros, é tratada como sinônimo de competência e profissionalismo, evidenciando a discrepância racial.
Rebeca Andrade é natural do bairro Vila Fátima, em Guarulhos, uma área considerada segura e bem avaliada pelos moradores. Isso contrasta com a percepção equivocada e preconceituosa que associa automaticamente a pele negra a condições de vida precárias. A realidade é que Rebeca, assim como muitos outros negros, cresceu em um ambiente que valorizava segurança e qualidade de vida.
Tatiana, por outro lado, teve a oportunidade de crescer no Havaí, uma região conhecida por suas belas praias e cultura do surfe. Seu acesso a treinamentos de alto nível e infraestrutura adequada foi facilitado pela condição socioeconômica de sua família, um privilégio que muitos atletas negros não possuem.
Essa disparidade no tratamento não é um caso isolado. É o reflexo de um sistema que perpetua a desigualdade racial, valorizando uns em detrimento de outros. O racismo estrutural está enraizado nas instituições e nas narrativas que moldam a percepção pública.
A visão racista de que negros são inferiores está presente em todos os aspectos da vida, desde a educação até o mercado de trabalho, e se manifesta de forma aguda no esporte. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que pessoas negras têm menos acesso a oportunidades e enfrentam mais obstáculos para alcançar sucesso em suas carreiras.
A comparação injusta entre Rebeca Andrade e Tatiana Weston-Webb é um exemplo claro de como o racismo ainda define a forma como valorizamos e reconhecemos o talento. Rebeca, com sua trajetória inspiradora e conquistas notáveis, merece ser celebrada pelo que é: uma campeã olímpica, um ícone do esporte brasileiro, independente de sua cor de pele.
É imperativo que as instituições, como o Comitê Olímpico do Brasil, revejam suas práticas e se comprometam com uma representação justa e equitativa de todos os atletas. O reconhecimento do mérito deve ser igual para todos, sem distinção de raça ou origem.
Rebeca e Tatiana são exemplos brilhantes de dedicação e talento. A sociedade precisa enxergá-las pelo que realmente são: atletas excepcionais que representam o melhor do esporte brasileiro no cenário mundial. O racismo não pode continuar a ofuscar suas conquistas.
Comments